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23 dezembro 2008

O que me convém.


Eu não estou bem e nem preciso estar. Não preciso distribuir sorrisos forçados só pra não mostrar o quão frágil eu sou em determinadas situações. Não preciso estar alegre só porque é natal. Não preciso usar roupas da moda pra ser aceita na sociedade. Não preciso te tratar bem só pra ganhar um agrado. Não preciso fingir ser uma pessoa que eu não sou só pra atender as expectativas de alguns desconhecidos. Não preciso ouvir as músicas que me dizem para ouvir, vou escutar o que faz bem aos meus ouvidos. Não preciso falar de você pelas costas, tenho coragem o suficiente pra fazer isso na frente. Não preciso fingir que está tudo bem quando estou menstruada, e nem controlar a minha tensão pré-menstrual. Não preciso acordar cedo pra ficar sem fazer nada, olhando o tempo passar quando poderia estar aproveitando um sonho muito melhor. Não preciso agir diferente do que normalmente ajo só pra te agradar, e nem espere que eu o faça. Não preciso fazer nada, só o que me convém.

19 dezembro 2008

Insônia

Meu corpo arqueja
De cansaço, mas
Algo me incomoda,
Algo me mantém acordado
Para a sub-realidade.
Olho pro lado
Todos dormem enquanto
Eu infelizmente não.
Volto a ter meus pesadelos
Acordado.
Meu Deus, o que faço
Quando o sono desaba
E a alma tam...bém?

Pensamentos

Os pensamentos,
São armas biológicas,
Que curam e matam
O corpo
Que ata e desata
O nó do consciente e do
Inconsciente...
Pensamentos... (Monumentos)
Divagações... (Decepções)
A razão... (Uma alusão)
À desilusão...
Meu consciente... (Está inconsciente)

08 dezembro 2008

Experimentações, Rancores e Liberdade

Há aproximadamente um ano estou vomitando dejetos líricos e sujos, enquanto, nobre leitor, se enoje de tanto rancor e liberdade. Estamos presos há séculos em uma literatura comedida e cheia de regras. Então, decidimos fazer algo novo (não é uma Semana de Arte Moderna, mas...). Decidimos fazer uma literatura experimental, com que se faça gargalhar com o ódio,  criticar com o cotidiano e rir com o romantismo. Talvez encontre, caro leitor, algumas rimas, alguns neologismos, muitos erros, certa ingenuidade ao brincar com as palavras. Mas aprendemos. Estamos aprendendo. Os Vampiros são melhores quando mais velhos e experientes. É verdade que passamos um tempo de seca produção, mas logo veio a chuva e trouxe outro vampiro, não menos apto. Muito pelo contrário. Até deu certa conformação... ganhar o mesmo salário trabalhando menos é ótimo, não? Agora, deixemos essa balela de lado que estou faminto e não tenho tempo a perder. Ainda quero voltar para minha festa de aniversário e falar com esses humanos sem a tentação de devorá-los!

20 outubro 2008

O avião.

O vôo atrasara duas horas, o que já foi o suficiente para irritá-la. Ana odiava viajar a negócios, principalmente quando as linhas aéreas estavam congestionadas. Quando a chegada do avião foi anunciada pelo som, levantou-se impaciente e dirigiu-se ao portão indicado, entrando no avião e procurando seu assento. Acomodou-se aliviada, afundando-se na poltrona acolchoada que lhe cabia e feliz que sua espera havia chegado ao fim. Nos segundos seguintes outras pessoas entraram no avião e ocuparam as demais cadeiras. Cochilou por quase uma hora e, quando acordou, notou que a poltrona ao seu lado fora ocupada por um homem robusto que aparentava ter quarenta anos. Não se incomodou em cumprimentá-lo. Pouco tempo depois, a aeromoça passou pelo corredor central oferecendo bebidas e petiscos aos passageiros. Ana aceitou um sanduíche de peito de peru defumado e suco de cajá, e o homem ao seu lado pediu o mesmo. Depositou o recipiente no porta-copo da poltrona e concentrou-se no lanche. Depois de duas ou três mordidas, ficou com sede e solveu alguns goles do suco, colocando-o de novo na posição anterior. Notou, porém, que em seguida o homem pegou seu copo e bebeu dois goles, colocando-o de volta como se nada houvesse se sucedido. “Que audácia!”, pensou. Solveu mais do líquido amarelado e, para sua surpresa, o homem repetiu o ato. Já enfurecida pela falta de educação do sujeito, voltou-se para ele em tom de resmungo:
- Se o senhor tivesse a decência de pedir o meu suco, garanto que não o negaria.
- O seu suco está ali, senhora. – Disse, num tom extremamente calmo e dócil, apontando o porta-suco do lado direito de Ana.

17 outubro 2008

Vulto

Foram-se três anos, quatro meses e mais seis noites de lágrimas e soníferos. Respeitável público, este é o circo das perturbações sobrenaturais, habitat do remorso seqüelado. O crime fora executado de forma brilhante, mas a mente flagrou-se, ativando o surto de aprisionamento de si própria. O corpo nunca foi encontrado. Segue a morte dentro do caixote enterrado debaixo da casinha dos cachorros. Porém, os ossos secos permanecem juntos em uma ameaça viva ao seu álibi artificial.
A tortura perpetuamente fora instaurada pela vítima, segura de que o assassino não viveria em paz. O professor não teria vida, mesmo estando vivo. Ensinava de manhã em uma Universidade da capital, sem dar nenhum sinal de alterações em seu humor. Apenas quando voltava para aquela casa, aquele cenário que ainda guarda a cena do crime mais rápido e fino que já existiu, o pânico aflorava-se e o vulto aparecia para mais uma vez lembrar que não desaparecera do local.
O vulto persegue o assustado professor, sem ainda saber o porquê de sua morte, mas totalmente certo de que o mentor do crime não descansará jamais.
O homem deita na rede da varanda, balançando-se e folheando uma revista antiga e olhando de um lado para o outro, esperando alguma manifestação sobrenatural, que já estava se tornando natural. Levantou-se para tomar um copo de água na cozinha e quando estava caminhando pelo extenso corredor, ouviu o barulho da rede balançar fortemente. Olhara espantado para trás, pois não havia sequer ventado naquele momento. Certificou-se de que a rede estava vazia e foi até a cozinha para beber, enfim, a sua água. Quando abriu a geladeira, ouviu um suspiro. Não era o barulho da geladeira, era realmente um suspiro. Olhou para trás e procurou o seu companheiro indesejado. Debaixo da estante de madeira, ao lado do fogão, ali estava o vulto franzino de seu antigo amigo invejado. O desespero de quem não agüentava mais aquilo toda noite o fez apertar tanto o copo de vidro que acabou por quebrá-lo, abrindo um corte profundo em sua mão. Ajoelhou-se, olhou bem para a macabra companhia, disse algumas palavras de ojeriza ao seu infeliz cotidiano noturno, rasgou a garganta com um fino pedaço de vidro.

11 outubro 2008

A Cadeira

A cadeira ali estava, sozinha e orientada. Era imóvel e imutável. Seus movimentos não passavam de fluxos imaginários. Silenciosamente, no canto da parede, ela gritava para si mesma, como e ninguém pudesse ouvi-la, a não ser ela mesma. Já as paredes que a envolviam como um casulo – que esconde o turbilhão constante da metamorfose - eram envelhecidas pelo tempo e pelo vento. Estas paredes passavam por dentro da casa desconhecidas. Essas passavam por reformas e mudanças para que parecessem sempre firmes e fortes para protegerem a cadeira. A sua existência resumia-se em ali existir, em ser, em proteger. Eram simples paredes de concreto, efêmeras e destrutíveis. Eram complexas e pequenas partes juntas, para que, no final, fossem grandes armaduras da cadeira. O ar denso do quarto e sua solitária cadeira nunca haviam visto ou tocado nada, principalmente além da grande porta que as trancavam. Não viam porque não precisavam. Os seus universos eram apenas sua própria existência. No quarto escuro, o limite era apenas o saber de suas coexistências. Estavam intimamente ligadas, mesmo sem se tocarem. A cadeira não poderia ver porque as paredes impediam seu olhar além-parede. As paredes não viam porque o tempo não tinha passado para que a crisálida mostrasse sua essência, pois nesta ainda havia algo inacabado. Pensou a cadeira que nada existia porque não via. E nunca poderia ver: era uma cadeira, apenas. Uma cadeira isolada de todo seu ser. As paredes envelheciam, mas a cadeira continuava jovem. Um dia, essas já não sustentavam mais a si mesmas e desabaram inertes e mortas, como a pétala de uma tênue flor que é machucada pelo vento. Finalmente, pensou a cadeira. Finalmente pode ver tudo, mas nada via. Nem deveria mesmo. Com as paredes ela tudo era, mas sem estas, não passava do nada disperso no tudo.

09 outubro 2008

Vale do Esquecimento I


Existe um lugar, em alguma parte desse mundo, para onde vão todas as coisas que foram esquecidas. Objetos, pessoas, sentimentos. É como aqui, tem árvores, postes, casas, e até pessoas, mas não tem vida. Não há ninguém, realmente, lá. Há um morro, um morro bem alto, que enfeita a paisagem de um cemitério. Os túmulos estão dispostos em qualquer posição, mas não há retrato algum, ou nome, muito menos alguma oferenda. O cinza desfalecido tomava conta das lápides, de modo que era impossível diferenciar quem eram aqueles que jaziam ali. Um cheiro de enxofre insuportável estava impregnado no ar, entretanto, ao redor, o verde da paisagem continuava vivo, como uma compensação, uma alegria para mantê-los sempre esperançosos. Quando atravessei o extenso campo de girassóis no caminho, parando vez ou outra para colher alguns, lembrei-me de como era gostoso encostar o nariz nas pétalas aveludadas e pomposas. O amarelo era o que mais me encantava, era vivo como o sol. Eu estava sozinha. Carregava a minha cesta tão absolutamente próxima a mim, que deixava marcas em minha pele. Era um campo aberto e tudo o que havia eram lápides, pedras de mármore gastas pelo tempo e pela chuva. A grama era alta, mal cuidada, chegava à minha cintura. Eu já estava naquele lugar há muito, muito tempo, por isso estava acostumada ao silêncio absoluto, mesmo que para os outros ele parecesse ameaçador e profundamente infinito. Me aproximei de uma lápide e senti que havia mais alguém ali. Apenas um alguém não, muitos alguéns, pessoas que eu não conhecia, que não fazia idéia de que aparência tinham, do que gostavam, mas sabia que tinham vindo do mesmo lugar que eu. Estávamos, então, ligados de alguma forma. Abaixei-me e depositei um girassol sobre a terra há muito não cavoucada, dura, enjilhada. Sentei e esperei alguma coisa acontecer, e eu sabia que aconteceria mais cedo ou mais tarde. Senti um gesto de afago, embora áspero. Um homem surgira em minha frente, alto, robusto e com um quê de nobreza, mas sua feição era meiga, exprimia toda uma bondade desajeitada. Acomodou-se na grama, ao meu lado, sorridente, segurando o girassol que eu havia posto em seu lugar de descanso.

- Obrigado.

- Não precisa me agradecer, Robert.

- Você me deu o que todos aqui almejam, algo que eu deveria conseguir por conta própria. Mesmo me sentindo assim, respirar novamente me é um deleite.

- Fico feliz que o tenha ajudado. Gosta de girassóis? Eu colhia muitos quando era menor, costumava enfeitar os jarros da minha casa com eles.

- Girassóis? São bonitos. Amarelos, macios. Refletem luz, esperança, esperança essa que você acabou de me devolver. Gosta de café?


Aquela conversa durou horas. Logo Johns, Marys e Jacobs se juntaram a nós em uma grande roda. Todos nós trocamos experiências e aprendemos uns com outros. Alguns eram velhos, outros novos, não tem idade quando alguém é esquecido. Quando saí, deixei uma flor em cada lápide, para alegrar o dia e a noite daquelas criaturas tão solitárias e tristes, impossibilitadas de sair dali. Todos eles voltaram ao seu descanso, mas eu sabia que poderia vê-los sempre que quisesse, quando me sentisse sozinha ou quando eles próprios clamasse por mim. Porque enquanto eu estivesse naquele lugar, eles não estavam completamente esquecidos.

29 setembro 2008

Ponto isolado

Noite de inverno, ecoam os urros inexprimíveis pelas quatro paredes, inalando todas as lembranças das páginas rasgadas de um verão mofado.
Sou um ponto microscópico dentro de um quadrado espaçoso e vazio. Concentro-me em remover os pedaços agudos de vidro que ainda atormentam a minha alma com furos certeiros. Hemorragia sem sangue, dores que não deixam seqüelas. Não saio desta situação, quero livrar-me das memórias, de momentos passados, de figuras, cores, flores, dores! Que saia de mim esta alma, o maior reflexo de inferioridade, da falta de liberdade, uma angelical demonstração de fraude.
O telefone já tocou várias vezes fora do quarto, mas eu não quero atender. Não consigo atender. Pode ser alguém. Lógico que é alguém. Não quero falar com ninguém. No prezado momento, devido às aparentes circunstancias, o melhor é continuar a interpretar o meu personagem desta tragédia. Um ponto, um insignificante ponto dentro de uma atmosfera vazia. Um comportamento assim não me faz sentir dor e nem consola meu pranto, porém evita a ocorrência de uma possível acumulação de mais dor. O sofrimento já encheu o poço, não quero derramar. A minha respiração anda dançando um jazz atropelado, em que o ponto alto da música chega quando a cena final do verão aparece à minha mente.
Meu quarto tem uma janela, o único contato com o mundo frio de céu cinzento. Antes das nuvens chegarem e minha felicidade partir, eu era mais do que um ponto isolado dentro de um grande quadrado. Servia para algo, não era meramente um cômodo vivo.
Lá fora, a árvore do quintal balança, o vento não perdoa. Será que devo agir como o vento? A solidão está roendo meus neurônios, definitivamente preciso escrever um basta e sair do casulo. Não consigo ser mais do que este ponto, sou somente um ponto, antes éramos dois pontos buscando trocar palavras perfeitas um com o outro, agora sou um ponto. Espero que uma borracha venha para apagar-me. Viraria o nada. Mas não estaria mais como um ponto, sofrendo pela ausência de outro ponto.

O Ente

O ente
Doente
Acorda e mente
A corda em mente
Mente vazia
Sente (intermitente)
Pára.
Flui.

21 setembro 2008

Sedimentação subjetiva

Misturo-me ao líquido

Às reformulações do comportamento

Um sólido também teme a sua decomposição

Exatamente por esta razão tenta criar uma nova denotação

Para o seu viver instável

Impreciso

Isto realmente é preciso

Cochilo

Sedimento-me solidificado nos fatos

E pelo futuro das impossíveis chances

Deixo-me fluir...

A caixinha colorida

A rosa que você me deu
Vermelha como meu cabelo
Guardava aquele cheiro
De um amor jovial.
E a sua camisa listrada
Aquela que me deu de presente
Quando vivíamos loucamente
Costuma me trazer nostalgia.
E eu não pensei que viveria
O suficiente pra sentir alegria
Em nos ver separados
Talvez até distanciados
Pelo tempo traiçoeiro.
A visão da janela agora é incolor
E agora reflete aquele amor
Aquele, coberto de bolor
Enterrado para sempre, estupidamente
Em uma caixinha colorida
Na qual eu tento, e tanto
Jamais mexer novamente.

31 agosto 2008

Outdoor

A sanidade depois do amor é mito. Muitos dizem que nunca irão de se rebaixar para uma figura feminina, transformando-se num cão atrás de uma cadela no cio, deixando o seu lado emotivo prevalecer sobre sua razão. Na verdade todos que dizem isso são idiotas. Eu sou um idiota, pois eu alegava tal asneira até pouco tempo.

Sônia se fez presente em minha vida, eu tentei ser um presente para a vida dela. Foi uma doce ilusão. Na verdade, uma amarga desilusão no fim das contas. Eu ganhava a vida como pintor de outdoors, trabalhando muito e nos mais variados cantos da cidade.

Até que um dia fui pintar um outdoor próximo a um posto de gasolina localizado em uma avenida famosa de Fortaleza. Não deveria ter olhado para aquela mulher da loja de conveniência, nem ela deveria ter me enfeitiçado com seu jeito meigo de tirar troco da caixa registradora. No primeiro momento em que a paixão entrou no meu peito, me desequilibrei e quase caio em cima de um lixão que estava logo ali abaixo.

Quando desci, fui diretamente ao posto de conveniência. Estava com um macacão sujo de tinta, minha pele transpirava loucamente um suor frio e fedido. Tirei do bolso uns trocados, olhei para os olhos da atendente, olhei para o seu crachá, e disse: “Me vê uma coca, Sônia.” Ela olhou para mim e deu um sorriso cativante. Mas que droga! Ela não deveria ter dado aquele sorriso! Aposto que foi só para me provocar, para ver se minha coragem ia além de um olhar safado e insinuante. Para a surpresa dela, foi muito além.

Passei a noite toda com ela na minha mente, o sorriso, o crachá, o nome, a pele, o cabelo, a coca... Até que no início da madrugada uma idéia louca me fez sentar na cama. Estava totalmente tomado por uma louca paixão, não posso negar. Amanhã eu iria finalizar a pintura do outdoor, o que me fez ter uma idéia arriscada.

No dia seguinte, cheguei bem cedo ao local. Na verdade, não tinha dormido quase nada, pois estava ocupado produzindo um plano bem tosco. Homens apaixonados fazem coisas toscas. Aliás, homens apaixonadas são toscos.

Subi pela escada, tomei fôlego e comecei o trabalho sem medo do que poderia me acontecer. Passei a tarde toda lá, trabalhando. Até que beirando às dezessete horas, minha obra-prima estava pronta. Fui até a loja, chamei a Sônia para fora da loja. Não tinha ninguém lá dentro mesmo, então ela saiu sem nem perguntar o motivo.

Ao olhar para o outdoor, ficou paralisada por alguns segundos. Estava lá, escrito dentro de um coração pintado com a mais viva tonalidade rubra, “Sônia, amo você!”. A atendente, que aos poucos voltava a si, olhou para mim e simplesmente deu aquele mesmo sorriso. Só que pela primeira vez, o sorriso veio acompanhado pela bela voz. “Desculpe, sou casada”.

29 junho 2008

Insônia

A noite entra. A escuridão se estabiliza, todas as casas apagam suas luzes e a insônia me visita. O crepúsculo pode surgir a qualquer momento e meus olhos vermelhos anseiam apenas que a minha áurea espante o mau agouro e encontre o sono. Pegar algo na geladeira. Minha boca está seca, escorre grãos de areia em minha garganta, Cara! Por que raios isto há esta hora?! As gostas de suor mostram-se presentes, o ventilador não parece surtir efeito. Como isso aqui está abafado. Amanhã não vou poder dormir de dia. Maldita insônia, noite de agonia!

29 maio 2008

Relógio

Relógio. Remédios. Uma noite. Olhares. Vozes. Uma carta. A chuva. Lágrimas. A lua. O silêncio.

Não sei qual nome por...

Tão pequena e ao mesmo tempo forte
Uma dama em pele de criança
Seu doce olhar nos traz para longe da morte
Tu em mim cria laços
Não por imposição ou destino
Mas apenas por seus delicados traços
Cheios de ternura,
Fortes e decididos
Sempre prestativos e oferecendo a cura
Limpaste minha mente para o mundo ver
Creio que sou abençoado
Por sua amizade, que posso ter

26 maio 2008

Perfeição

Sorridente e carinhosa cuida das crianças na escola, recebendo-as como filhos e cuidando de cada uma de uma maneira doce e serena, transmitindo uma calma, um sentimento de paz e felicidade. Na sala dos professores, escuta um por um, aconselhando-os, protegendo suas vidas de más escolhas e falsas ilusões. Sua fisionomia bela transparece a tranqüilidade e seu sorriso faz todos se alegrarem em sua presença. Passando na rua, os cabelos ao vento fazem os pedestres observarem aquele ser de perfeição absurda. Chegando a sua suíte, saindo da presença de toda observação secular, retorna a seu martírio, toma alguns de seus remédios tarja preta e apaga.

20 maio 2008

Desabafo Crônico de Cronista

Antes o homem tinha seu valor humano. Hoje já não o possui. É mais um ser humano no mundo. O problema não está em ser humano, mas sim em ser um ser humano. Atualmente são apenas números: paciente do leito três, matrícula, telefone, CPF, RG e mais códigos e códigos. Não se pode ser mais humano neste mundo de monstros ego centristas e interesseiros. Se você, meu caro amigo, quiser ajudar alguém, talvez este negue sua ajuda, pensando que tenha que retribuir ou que tenhamos segundas intenções. Propósitos, aliás. Eles gostam do eufemismo e da hipocrisia, mas eu da ironia. Eufemismos são máscaras que ora enganam, ora caem. Não, eles não me servem. Estão todos corrompidos pelo consumismo inútil e desnecessário. E se não consumir você que é o corrompido. Ah, colega, tantas vezes fiz-me de otário... Porque é isso que os seres humanos são, perdoe-me a grosseria. Quem se preocupa com a ética, caso esta não esteja a seu favor? Quem liga para a moral? O que é moral, imoral, amoral hoje em dia? Dizem até em salas de aula que os poetas são autênticos e tênues; os prosistas são vendidos. É verdade. Nós prostituímos nossas idéias, vendemos um pedaço de nós para ter um medíocre espaço em um jornal D, P ou E, no dia S ou Q. Amigos juntem nossas forças-idéias e façamos uma revolução. Veremos como serão os jornais sem seus artigos e colunas, as editoras sem ter livros a publicar, o povo sem ter o jornal para ler, o mundo sem a literatura. Escrevamos amigos, pois o fim do mundo humano se aproxima. O papel-moeda dominará tudo. Ate os sentimentos. Os homens serão robôs programados para não sentir nada e que caçam os verdadeiros humanos. Escrevamos para que todos os robôs nos leiam que sintam a arte penetrar entre seus íons e ondas eletromagnéticas e derramem uma só lágrima. Escrevamos para que sintam a repugnância dessas almas cheias de coisas tão vazias. Para lembrarem que sentimentos bons ainda existem. Para lembrá-los que nem tudo é para sempre (ainda que “seja infinito enquanto dure”). Escrevamos para moldar estes monstros fantasiados de homens, para dizer que não nos prostituímos por dinheiro, nem por prestigio, mas para que um dia as almas vazias tão cheias de nada se encham com algo.

14 maio 2008

O Perfeito Idiota

Hoje estou decidido:
Irei para o grandioso reino
Dos idiotas!
Ris por quê?
O que há de engraçado? Não
Conheces nenhuma pessoa
Assim como eu?
Rides de mim, seu
Bucéfalo irônico!
O amanhã está próximo
Não tens medo de me substituir
E tornar-se o perfeito
Ou quem sabe
O mais idiota?

A invencível

Conte-me isto
Ou aquilo!
Não faça isto!
Tome cuidado!
A burrice é contagiosa.
Gripe é brincadeira.
Invencível é a burrice.
Agora não adianta mais chorar:
Ruminante és, ruminante serás!

Fromhellarização

Trapos! O pudor juvenil do século atual está todo em forma de trapos! Você pode até pensar: "Esse cara fala da própria geração em que está inserido!". Eu respondo: Estou mesmo, e quer saber? Eu não escolhi viver com essas pessoas e a única coisa que posso fazer com relação a isso é escrever esse tipo de resmungo! Um dia eu estava passando por um shopping e avistei a vitrine de uma relojoaria. Em exposição encontravam-se relógios, óculos e algemas. ALGEMAS. Meu bom Jesus, algemas... Cara! Pra que diabos alguém inventa de vender algemas nesse tipo de loja?! Pra cronometrar em quanto tempo outra pessoa se solta delas? Vai inventar outra! A Fromhellarização do mundo está correndo de forma acelerada. Simplesmente você sai de casa em uma segunda e vê todos com uma melancia na cabeça, chegando à outra segunda já estão todos com uma jaca. Foi idiota esse exemplo, eu sei. Deu pra entender? Enfim, os jovens querem mais status, inventam mais status e matam mais status. As empresas planejam mais status, produzem mais status, e ressuscitam os status assassinados, batizando-os de "cult". Os locais públicos andam se tornando um ninho de cultura porca da atualidade, mesclando indieotas pseudo-estrelas de rock com toda a elite de pinguços rebeldes. Quando acho que encontrei algo que traz cultura e alguma coisa de útil, me deparo com meia dúzia de velhos intelectualizados que não querem que ninguém mais entenda o que eles falam, a não ser que seja mais um velho da alta sociedade cearense. Eu tenho nojo desse povo, acho que um vampiro que pensa como eu iria morrer de fome nessa cidade, com medo de se contaminar através do sangue imundo que corre nas veias de marionetes neo-fromhellistas.

02 maio 2008

Penumbra Póstuma

Trago em minhas mãos vestes rasgadas,
Vestes umidificadas,
Envolvidas em sangue e lágrimas.
Eu te saúdo, pois logo se tornarás saudoso.
Neste nosso cumprimentar que aos poucos vira o cumprimento
Da sentença imposta ao teu corpo.
Desfiam-se as memórias vitais da pobre alma.
O olhar encerra-se fixo na penumbra.
Entrou em mais uma noite, sua última noite,
Noite póstuma.

05 abril 2008

Errônea Sedução

Apenas a dei rosas vermelhas, mas ela absorveu apenas os espinhos. Não entendo o porque, nem o porque responde ao ato desta noite de frieza e cálculos apostados de forma incorreta por uma linda boca decorada pelo batom brilhoso e lilaz. Desculpe se tudo parece enrolado, mas eu não consigo conversar com minha conciência carregando em meu peito esta estaca de madeira. Dói, lógico que dói. Por que não grito? Ai. Satisfeito? Pronto. Pois é, ela me deixou na mão. Digo, antes disso ela enfiou esse troço aqui no meu peito...aí sim ela me deixou na mão. Permita-me sentir dor novamente. Ai. Obrigado. Porém, em verdade vos digo: É tudo culpa da Buffy! Depois ainda dizem que a TV não influi nas tragédias que ocorrem na sociedade. Olha o rombo que a TV me fez aqui. Eu acho que estou sentindo a ponta da estaca saindo pelas minhas costas. Ai. Ai de novo. Perdão. Esta seria nossa última noite juntos. Quer dizer, vai ser. Ela, nesse instante, já deve ter entrado no avião. Temporada de caça aos demônios da tazmânia em plena Austrália. Acho que o tédio promovido pelo nosso relacionamento a fez sentir esses desejos peculiares e, em outras circunstâncias, até cômico.Rubi, ó doce Rubi....Por causa de meu amor por ti eu me... (morte).

01 abril 2008

As Madrugadas

Em uma dessas madrugadas dois vampiros anêmicos sem nada para fazer decidiram competir, criando um desafio acróstico. E olha no que deu... 
(OBS: André x Raissa)

Unicamente este é a mais
Racional das minhas vergonhosas
Soluções: omitir meus erros,
Omitir meu ser, meu (não) existir

x

Cale-se seu ser imundo!
Demente mor entre todos os dementes
Erro da genética
Irracional criatura....
Racional massa cefálica
Agarre-se com sua ignorância e morra!

x

Tinha que ser assim minha joia
Rara... entre tuas cordas de
Aço e entre teus trastes
Sonho e componho as minhas
Tristes canções de um velho
Erguido pelos teus acordes.
x

Pequena criatura
Ativa e noturna
Raio de uma chuva seca
Tenebre cena de teatro mudo
Ideologia de mortos vivos em uso
Dádiva do inferno aos deuses
Águia dos céus enfermos
x

Galopo entre os pensamentos
Ateus e incompletos...
Luto pela liberdade, não por dinheiro
O coração palpita e o vento bate forte na minha face.

x

Anjo solene
Minha estrela que ilumina
Item que ama e domina
Zebra que em acrósticos salva
Amiga que é bem usada
Desta palavra tão profunda
Este é o fim...

x

Incontrolavelmente desprendo-me...
Nada com a liberdade, o
Vento que vem do oeste
É quente e acolhedor. Planto
Raízes neste pobre solo,
Seco e impuro... Planto raízes
Onde crescem as árvores da virtude.
x

Varinha de condão
Inversa Maldição
Ruidosa introdução
Termina em putrefação
Unida ao coração
Desvairado em perdição
Envolto à abominação

x

Estrelas... são astros que estão
Sempre nos rodeando, como
Telescópios que vigia o
Espaço sideral... um
Lugar sem início ou fim
A grande ambiguidade da vida
Reunindo-se na imensidão de nossos céus.

15 março 2008

Odes

Tu és um monstro!
Tentas perscrutar todos,
Mas em teu vil coração
A sordidez é quem ganha!
Perspicaz operário das ruínas
É o ser humano, é o homem...
Regurgito tuas blasfêmias
E fazes de gozo teu ato
O elo entre o intríseco e
O maniqueísmo.
Sobe à mim a ânsia de vômito
Que, importuna, explode de
Odes sórdidas e e torpes.

25 fevereiro 2008

Diálogos

- Mamãe! Mamãe! É verdade que os dinossauros eram grandes???
- É sim, meu filho.
- Mamãe! Mamãe! É verdade que o maior animal do mundo é a baleia azul?
- É sim, filho.
- Mamãe! Mamãe! É verdade que o Brasil é o país do futuro?
- ...

28 janeiro 2008

Sociedade

Mate minhas cordas vocais!
Armas de efeito moral não ferem minha alma...
Lave com meu sanque sua mente sagaz!
Defuntos deixam sementes que um dia irão germinar,
Intermediando os desejos de outras gerações,
Tramando a revolução,
Arquitetando planos de famintos corações!