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31 agosto 2008

Outdoor

A sanidade depois do amor é mito. Muitos dizem que nunca irão de se rebaixar para uma figura feminina, transformando-se num cão atrás de uma cadela no cio, deixando o seu lado emotivo prevalecer sobre sua razão. Na verdade todos que dizem isso são idiotas. Eu sou um idiota, pois eu alegava tal asneira até pouco tempo.

Sônia se fez presente em minha vida, eu tentei ser um presente para a vida dela. Foi uma doce ilusão. Na verdade, uma amarga desilusão no fim das contas. Eu ganhava a vida como pintor de outdoors, trabalhando muito e nos mais variados cantos da cidade.

Até que um dia fui pintar um outdoor próximo a um posto de gasolina localizado em uma avenida famosa de Fortaleza. Não deveria ter olhado para aquela mulher da loja de conveniência, nem ela deveria ter me enfeitiçado com seu jeito meigo de tirar troco da caixa registradora. No primeiro momento em que a paixão entrou no meu peito, me desequilibrei e quase caio em cima de um lixão que estava logo ali abaixo.

Quando desci, fui diretamente ao posto de conveniência. Estava com um macacão sujo de tinta, minha pele transpirava loucamente um suor frio e fedido. Tirei do bolso uns trocados, olhei para os olhos da atendente, olhei para o seu crachá, e disse: “Me vê uma coca, Sônia.” Ela olhou para mim e deu um sorriso cativante. Mas que droga! Ela não deveria ter dado aquele sorriso! Aposto que foi só para me provocar, para ver se minha coragem ia além de um olhar safado e insinuante. Para a surpresa dela, foi muito além.

Passei a noite toda com ela na minha mente, o sorriso, o crachá, o nome, a pele, o cabelo, a coca... Até que no início da madrugada uma idéia louca me fez sentar na cama. Estava totalmente tomado por uma louca paixão, não posso negar. Amanhã eu iria finalizar a pintura do outdoor, o que me fez ter uma idéia arriscada.

No dia seguinte, cheguei bem cedo ao local. Na verdade, não tinha dormido quase nada, pois estava ocupado produzindo um plano bem tosco. Homens apaixonados fazem coisas toscas. Aliás, homens apaixonadas são toscos.

Subi pela escada, tomei fôlego e comecei o trabalho sem medo do que poderia me acontecer. Passei a tarde toda lá, trabalhando. Até que beirando às dezessete horas, minha obra-prima estava pronta. Fui até a loja, chamei a Sônia para fora da loja. Não tinha ninguém lá dentro mesmo, então ela saiu sem nem perguntar o motivo.

Ao olhar para o outdoor, ficou paralisada por alguns segundos. Estava lá, escrito dentro de um coração pintado com a mais viva tonalidade rubra, “Sônia, amo você!”. A atendente, que aos poucos voltava a si, olhou para mim e simplesmente deu aquele mesmo sorriso. Só que pela primeira vez, o sorriso veio acompanhado pela bela voz. “Desculpe, sou casada”.