Noite de inverno, ecoam os urros inexprimíveis pelas quatro paredes, inalando todas as lembranças das páginas rasgadas de um verão mofado.
Sou um ponto microscópico dentro de um quadrado espaçoso e vazio. Concentro-me em remover os pedaços agudos de vidro que ainda atormentam a minha alma com furos certeiros. Hemorragia sem sangue, dores que não deixam seqüelas. Não saio desta situação, quero livrar-me das memórias, de momentos passados, de figuras, cores, flores, dores! Que saia de mim esta alma, o maior reflexo de inferioridade, da falta de liberdade, uma angelical demonstração de fraude.
O telefone já tocou várias vezes fora do quarto, mas eu não quero atender. Não consigo atender. Pode ser alguém. Lógico que é alguém. Não quero falar com ninguém. No prezado momento, devido às aparentes circunstancias, o melhor é continuar a interpretar o meu personagem desta tragédia. Um ponto, um insignificante ponto dentro de uma atmosfera vazia. Um comportamento assim não me faz sentir dor e nem consola meu pranto, porém evita a ocorrência de uma possível acumulação de mais dor. O sofrimento já encheu o poço, não quero derramar. A minha respiração anda dançando um jazz atropelado, em que o ponto alto da música chega quando a cena final do verão aparece à minha mente.
Meu quarto tem uma janela, o único contato com o mundo frio de céu cinzento. Antes das nuvens chegarem e minha felicidade partir, eu era mais do que um ponto isolado dentro de um grande quadrado. Servia para algo, não era meramente um cômodo vivo.
Lá fora, a árvore do quintal balança, o vento não perdoa. Será que devo agir como o vento? A solidão está roendo meus neurônios, definitivamente preciso escrever um basta e sair do casulo. Não consigo ser mais do que este ponto, sou somente um ponto, antes éramos dois pontos buscando trocar palavras perfeitas um com o outro, agora sou um ponto. Espero que uma borracha venha para apagar-me. Viraria o nada. Mas não estaria mais como um ponto, sofrendo pela ausência de outro ponto.
29 setembro 2008
21 setembro 2008
Sedimentação subjetiva
Misturo-me ao líquido
Às reformulações do comportamento
Um sólido também teme a sua decomposição
Exatamente por esta razão tenta criar uma nova denotação
Para o seu viver instável
Impreciso
Isto realmente é preciso
Cochilo
Sedimento-me solidificado nos fatos
E pelo futuro das impossíveis chances
Deixo-me fluir...
A caixinha colorida
A rosa que você me deu
Vermelha como meu cabelo
Guardava aquele cheiro
De um amor jovial.
E a sua camisa listrada
Aquela que me deu de presente
Quando vivíamos loucamente
Costuma me trazer nostalgia.
E eu não pensei que viveria
O suficiente pra sentir alegria
Em nos ver separados
Talvez até distanciados
Pelo tempo traiçoeiro.
A visão da janela agora é incolor
E agora reflete aquele amor
Aquele, coberto de bolor
Enterrado para sempre, estupidamente
Em uma caixinha colorida
Na qual eu tento, e tanto
Jamais mexer novamente.
Vermelha como meu cabelo
Guardava aquele cheiro
De um amor jovial.
E a sua camisa listrada
Aquela que me deu de presente
Quando vivíamos loucamente
Costuma me trazer nostalgia.
E eu não pensei que viveria
O suficiente pra sentir alegria
Em nos ver separados
Talvez até distanciados
Pelo tempo traiçoeiro.
A visão da janela agora é incolor
E agora reflete aquele amor
Aquele, coberto de bolor
Enterrado para sempre, estupidamente
Em uma caixinha colorida
Na qual eu tento, e tanto
Jamais mexer novamente.
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