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08 dezembro 2009

2 anos de prosas e devaneios literários

Em 2007, eu e Raissa damos início a este blog. Porém, sem saber, criamos também um álbum de fotografias. Quando nos reunimos em família, lembramos os momentos e abrimos as velhas recordações fotografadas. Viagens, nascimentos, falecimentos e momentos triviais que marcam de forma profunda. É mais ou menos essa analogia que eu acho que se encaixa pro VA. Ainda estava no colégio quando tudo isso começou, agora estou no meio do curso de jornalismo na faculdade. Raissa também estava na época colegial e agora está empolgada com seus estudos de ciências biológicas. Mas, algo não muda, apenas aprofunda-se: A paixão pela literatura. Isso, uma musa a quem procuramos não delimitar fronteiras de nossos desejos. Vejo que as coisas andam caminhando, o blog vai melhorando, mas a nossa essência do início ainda permanece, o que me deixa muito feliz! Não procuramos textos que causam efeitos por palavras, mas efeitos que lançam palavras. O regurgitar literário é uma constante em nossas obras, no nosso pensar e no nosso agir. Este ano, o blog mudou de cara. Isso para nós representa uma nova fase, em que precisamos freqüentar mais nossa casa de alucinações. Bom, acho que é isso. Uma lembrança breve para estes dois anos de anemia, no qual as expelidas coisas são o nosso alimento. Longa vida, experimentações, rancores e liberdade!

09 novembro 2009

A grande farsa

Algo soava a falsidade nesta segunda-feira. Hoje estava encarregada de solicitar a declaração do curso (pois após esperar 78 dias pela identidade estudantil, gastando com ligações para o DCE e quando finalmente recebo, disseram estar desbloqueada sem estar), então fui por volta das 15h até o Centro de Humanidades da UFC. Preenchi a papelada (já pensando que vou receber só daqui a uma semana - considerando que os funcionários públicos trabalhassem em prol do público), agradeci e fui embora. Sabendo que a única alternativa de quem quer se deslocar da movimentada Av. 13 de maio para a grande e esburacada Av. Bezerra de Menezes é a maldita topic 55 (o inferno sobre 4 rodas), decidi pegar o ônibus que para praticamente em frente da minha casa. A parada deste é na esquina da caótica Av. Duque de Caxias com a Av. Imperador. Não é uma das maiores distâncias que andei (acredite), mas na metade do caminho parecia que meus pés estavam pegando fogo. Faltando uma quadra para chegar à parada quase não estava mais pisando no chão. Peguei o ônibus (e fui assoprando os pés até chegar em casa). Cheguei em casa e fui analisar o que havia acontecido. Finalmente, depois de alguns minutos de alívio e de observação cheguei a seguinte conclusão: chinelo havaiana falsificada.

Por favor, antes de comprar a sua verifique se tem aquelas carocinhos de ventilação. Seus pés agradecem.

07 novembro 2009

Tardes de Inverno

Tinha seus 102 anos lúcidos e bem vividos. Quando mais jovem era uma grande atriz da época dos musicais. Agora acompanhava as brincadeiras dos bisnetos, sempre sorridente na cadeira de balanço. Era muito querida pelos familiares e amigos. Gostava muito das tardes de inverno, pois é quando o céu ficava mais enigmático e inconstante, mudando suas cores a cada pequeno instante.
 Nas tardes de verão sentava na calçada e ficava conversando com os vizinhos, falando da época em que o teatro tinha prestigio e o francês era a língua mundial. Via-se saudade nos olhos quando assim falava. Os netos perguntavam como haviam sido as guerras, mas ela recusava falar desse assunto. Dizia também que os atores eram mal vistos, embora todos levassem suas famílias para assistir espetáculos. Como queria que o tempo voltasse...
 Quando anoitecia levava a cadeira para dentro, tomava banho, bebia um copo de leite, escovava os dentes e ia dormir. Falava dessa rotina, da idade que não a permitia fazer mais o que quisesse. Mas mesmo assim não reclamava: apenas franzia a testa e abria um grande sorriso aos ver os bisnetos. Sempre fora feliz e não seria agora, tão perto de partir que iria fazer tempestades. Muito pelo contrario, tenho que aproveitar ao máximo esses bons momentos.
 Todo dia assistia o pôr-do-sol no alpendre da cadeira na cadeira de balanço que sempre sentou, desde quando era mais jovem, para ouvir sua mãe contar as fábulas de Esopo e histórias do oriente. Quando olhava para frente via-se um enorme gramado extremamente verde, que se destacava nessas tardes de inverno. A grama molhada fazia cócegas nos pés de quem andava em meio ao sereno.
 Um dia desses teimou em levar os quatro bisnetos para o parque. Quiseram dizer que não fosse, pois estava muito frio e poderia fazer mal para ela. Insistiu até que cederam. E assim foram brincar coma areia do parque, debaixo dos velhos flamboyants, fazendo castelos e imaginando coisas impossíveis. Eram cinco crianças que brincavam.
 Os bisnetos voltaram exaustos para casa e foram descansar cada um em seu quarto. Ela foi tomar banho. Colocou o perfume de alfazema do campo que tanto gostava, o talco no pescoço w foi ao jardim assistir a mais um por do sol. Sentou-se na cadeira de balanço e ficou vendo o céu mudar de cor. Cochilava em meio à gélida brisa de inverno, até dormir profundamente, como quem jamais despertará.


05 novembro 2009

O bardo das multidões surdas

no som rasgado do bandolim - no seu deleite fermentado - decodificando e desmembrando idéias e sensações - ilusórias e reais - alucinações - alucinações - vive a tocar melodias triviais remontando as carícias repetidas de velhos amores - novos rumores - futuro em geral - passeando por pontes modernistas - derramando o licor de sua garganta para a degustação submundana de terras baixas desprivilegiadas - o bardo segue coberto por seu manto de invisibilidade auditiva - pulsante rítmica dos acordes que não acordam - apenas tocam para multidões que seguem a não escutar

12 outubro 2009

Delírio Emocional de 2° grau: Indignação, Abandono e Degradação

Parte II – Não quero me ver, eu idiota!

São onze da manhã, quarta-feira e a primeira vez que falto o trabalho pelo prazer de faltar. Não estou cansado ou doente, apenas desisti, essa é a questão. Porque insistir se nada me insiste? Há muito tempo planejava realizar esse feito, agora o concretizei. Coragem? Há, há! Não... Situações, lembranças, as criaturas bestiais com as quais convivo... E você, sua consciência podre! Tudo o que passou em minha mente esses últimos dias remexeu impurezas que escondi. Achava que se as escondesse, nunca mais viriam. Furtei meu próprio tapete, e agora tenho que ver toda a porcaria que escondia debaixo dele.
Meu sofá, minhas viagens de solitude, remoções, tentando reposições do que não consigo recolocar! Eu não consigo mais me ver, não sairei desta sala. Não por hoje. Suportar-me já passou dos limites. Aquela cara de quem não sabe o que fez, pensa no que pode ter feito, mas não faz o que está para ser refeito.
Não toco na minha face, não sei se estou com barba e nem se a remela matinal ainda está lá. O espelho é um cara com o qual não quero me encontrar. Ele me mostra. Eu idiota. Retardado por anos e anos, e sempre se achando esperto, elegante. Na verdade, deprimente, vulgar. Esnobe, porcaria de diplomas e certificados de merda. Um ser condicionado a não se achar condicionado. Um condicionador para os cabelos alheios. Uma fórmula secreta que na verdade nunca existiu, se impôs ficticiamente. Minha face agora é sebosa, na verdade sempre foi. Mas agora é como nunca! Notei isso em eu. Sim, agora vejo você, eu idiota! E quando finalmente o vi, não o quero mais.
Rejeito-me eu para não me retrair por causa de mim. Saia daqui! Quebrarei de olhos fechados e punhos cerrados todos os reflexos da imagem desse louco bêbado errante. E nem você, Mr. Jack, ouse mostrar em seu corpo despido aquele idiota que se chama pelo meu nome!

05 outubro 2009

A dança dos germes dentro do seu oco

Saltitantes, luminosos, falhos
Celebrantes, cerebrais, sugadores
Fragmentos decadentes cercam-se
Do nada já comido, antes tudo
Suculentos, informes, exalam dor
Dançam
Oco do peito, oco da mente
O oco das palavras e de suas críticas fúteis
Remexem-se
Puro prazer degenerativo
Estético
Frenético
Loucos, suor, vigor, em êxtase
Dança dos germes dentro do seu oco
A proeza do vazio em ritmo asqueroso
Manifestar de vida dentro do seu morto

30 setembro 2009

Figurativo*

Penso, respiro, não digo que existo
Sirvo, divirto, não piso
Entro, saio, não altero o previsto
Movimento, ação, não aponto a direção

Imobilidade orbital, sedimentação espiritual

Falo, gesticulo, não expresso
Analiso, critico, não protesto
Ativo, compulsivo, não consigo
Estigmatizo, Excomungo, não justifico

Passividade vital, inquietação sobrenatural

*(Postado em 21/09/07 no blog Diving Within - www.divingwithin.blogspot.com)

22 setembro 2009

Delírio Emocional de 2° grau: Indignação, Abandono e Degradação

Parte I – Mendigos usam Black – Tie.

Uma droga de festa. Todos aqueles insuportáveis colegas de trabalho andando de um lado para o outro na cobertura de um apartamento luxuoso. Beth, uma perua despudoradamente mascarada. A mulher não conseguia disfarçar o seu estado de êxtase por ter pessoas da alta sociedade em sua residência. “Senhor Desembargador, precisa vir mais vezes! Faço um ótimo fondue...”, dizia mal contendo o abanar frenético do seu rabinho. O seu puxa-saquismo traz bens materiais, alto salário e regalias, mas a coleirinha vai apertando. Ela não percebe, mas os seus companheiros de trabalho estavam comentando as cenas dos próximos dias. A coleira de Beth vai sufocá-la. E todos ali a abraçam, a elogiam e bebem do seu vinho importado. A peça no teatro elitista estava no meio e eu não sabia qual era o meu papel.
“Passar uma tarde Itapuã... Ao sol que arde Itapuã...”. A bossa misturava-se aos perfumes, charutos e risadinhas ridículas. Alguns de meus superiores já estavam completamente bêbados depois da segunda taça de cidra. Eles conversavam sobre literatura, arte e filhos que enviaram à Europa. Velhos inúteis. Porcos cheio de si, lotados de conhecimento exibicionista. As amigas de Beth permaneciam sentadas no sofá de couro. Trocavam elogios sem ao menos deixar de olhar para os espelhos. E eu ainda não encontrava roteiro algum, não lembrava nenhuma fala. Não tinha personagem, fazia parte do cenário.
Quando cheguei, vim logo ao seu encontro, Mr. Jack! Precisava olhar para alguém digno de confiança. Isso! Confiança! A falta dela naquele ambiente é que me fazia sentir parte da mobília francesa. Pessoas ricas, bem apresentadas em roupas de grife, lindos carros no estacionamento, um papo de cultura erudita decorado. Basta um toque para que as cartas de baralho desabem. Não existem amigos. Por que tanto pedantismo, afinal? Ambiciosos malditos! Não se satisfazem com o que tem, precisam mostrar uns aos outros suas posses e ver o que o coleguinha tem para que ele possa invejar. São todos uns mendigos, esta é a verdade. Mendigam por atenção e prestígio. Mendigam por alguém que os inveje. Mendigam por um olhar falso. Eu não sou um deles! Sou um cara frustrado, sozinho, que agoniza pelos erros cometidos. Mas não sou um mendigo fedendo a fragrâncias dentro de um Black-Tie.

21 setembro 2009

Pétalas Secas*

Venho te ofertar o que possuo de melhor
Um punhado do meu ser
O reflexo de uma trajetória
Pétalas secas e espinhos cegos


*(Postado em 26/09/07 no blog Diving Within - www.divingwithin.blogspot.com)

04 setembro 2009

Delírio Emocional de 1º grau: Lembranças, Saudades e Anestesia.

Parte V – Momento pré-cirurgia interna alucinógena.

Eu vou esquecer de tudo agora mesmo! Meu sofá é tão confortável! A brisa está muito boa hoje, a atmosfera silencia-se ao meu redor. Olhos fechados não querem se abrir jamais. Como eu queria cegar meu coração, tirar todo o sentido das lembranças que perturbam o desenvolver da minha história nessa terra onde só os corretinhos e arrependidos terminam com um sorriso na cara. Relaxo para não quebrar tudo. Assim que deve ser. Eu acho. Escuto apenas o barulhinho do vento regendo a dança dos coqueiros que enfeitam a entrada do meu prédio. Imagino que o mar possa estar lindo e vaidoso hoje. Detesto o mar, mas deu vontade de imaginar isso agora. As pessoas no calçadão devem estar vendendo, comprando, correndo, caminhando, roubando, namorando, gritando, xingando, brigando, cheirando, bebendo, dançando, pirando, sentando, levantando, pulando, jogando, abrindo, fechando, uma flexão, duas flexões, chutando, passando, cabeceando, travando conflitos, bolando conflitos, encerrando conflitos, se acertando, se lascando. Se eu vendesse camarões à beira-mar, poderia tentar ser menos preso aos meus problemas e conviver com mais pessoas. Quem sabe um dia isso não possa acontecer? Mas, por enquanto, não troco esse meu sofá luxuoso por nada nesse mundo.
Se sabedoria é boa, porque não a encontrei nas prateleiras do shopping center? Dizem que o que é bom a gente compra, não dá. Pelo menos eu me lembro de alguém falando isso, ou era algo parecido. Essa brisa me lembra outra música do Opeth... Sim, eu gosto muito do som de Mikael e seus companheiros, ok?
O vento bate na janela e posso ouvir, como se minha mente gerasse o áudio completo de “In My Time Of Need”. A função anestésica que esta canção exerce sobre meus prantos não tem medidas possíveis de serem calculadas. “I...can’t...see...the...meaning...of...this...life...”, e assim a dor já começa a desencanar da minha alma por alguns minutos.



"E eu devo contemplar esta mudança,
Para amenizar a dor..."


Acho que você está certo, cara. Eu devo amenizar a dor. Mesmo que esta mudança me faça sofrer uma auto-degradação.

02 setembro 2009

Quando a mídia seduz as córneas*


A psicodelia disfarçada invade minhas córneas mais uma vez, insanamente estou a pedir que a verdade não me apareça vestida com cores e frases feitas. Na frente de nossos corpos acomodados no sofá são apresentados moralismos e costumes numa falsa sedução, fada madrinha, papai Noel, um santo homem cristão. Trace o seu destino, compre mais barato, obrigado por se deixar sugar, programas de verão à beira do mar.


A Inocência existe, idiotice não tem limites, traição, comprar um pão, ir à praça e jogar xadrez na casa do João. Craque, crack, assista ao futebol, polícia ao ataque! Mude, use, compre batom! Seja, leia a Veja, exista em um mundo “X” de hipocrisia demasiada.

Boicote as palavras, o povo quer ver sangue. Morte ao assassino! Vê se pode, decapitou um menino! Criamos desejos e malícias, não vivam reclamando, tire a roupa e saia proclamando: “Diga não à prostituição!”. Semana santa, queremos papa, pa – pé – pio, sapatos da Casa Pio. Poluição no mundo, diga não à destruição! Quem vai ligar para um simples pedaço de papelão?

Vejam que lindo anel de ouro! Das feridas africanas escorrem vísceras, traga a vasilha! Traga a vasilha! Cinco semanas de trabalho por apenas alguns centavos! Nossa Senhora me dê a mão, dance comigo este samba – canção. O fumo mata, funerária dá lucros, santo homem, a overdose o levou. O mundo acabou! O mundo acabou! Busquem a salvação, tenho uma excelente promoção...


*(Postado no blog Diving Within, dia 15/03/08 - www.divingwithin.blogspot.com)

01 setembro 2009

Visões sentidas

Às margens de um mar caótico pode-se encontrar, por vezes, pequenas e delicadas vidas na areia fofa. Andando pela Av. Barão de Studart, no Bairro Aldeota, ouvimos o rugir de motores e buzinas, aspiramos o odor fumacento sem lacrimejar, pisamos nos cantos vestidos pelo asfalto magmático. Estudantes, motoqueiros, frentistas, ônibus, fios, olhos fitados no próximo passo. Olhares perdidos em seus próprios futuros, em suas privadas situações, indiferentes ao grande mar que rodeia suas ilhas de aprisionamento. Ao chegar a uma esquina, próxima a um tradicional restaurante japonês da avenida, uma simpática rua floresce. Afonso Celso. Não sei se o nome se deve ao saudoso personagem de nossa literatura, apenas sei que o valor da rua está no silêncio. As buzinas, o som dos passos, os motores, vão diminuindo seus respectivos volumes para dar lugar ao som do vento batendo nas árvores. Uma rua de pouco movimento. Algumas clínicas, um centro de artes, casas antigas e a Associação Elos da Vida. Foi neste último local citado que encontrei a motivação para escrever este texto. Ao passar em frente à Associação, um ser simpático me aborda bem no portão de entrada. Na Afonso Celso, os olhares mostram-se mais fixados ao passado e ao presente. O olhar de quem me recebeu no portão mostrou-se atento, buscando-me com euforia, exprimindo toda a carência retida. Seus pelos loiros e caídos, mostravam uma idade já vencida... A melancolia de uma visão seca perseguia-me, como se quisesse regurgitar em mim o seu pranto, sentir-se acolhido por uma presença afável. Os olhares da Avenida mostraram-se egoístas, buscando suas próprias arredomas trancadas. No ar, a negligência de um pedido que não foi feito, o cerco invisível, mas que perfura sua carne profundamente ao aproximar-se. Olhares que se diluem... Sós. Por opção. Rejeição. Insatisfação sem nem ao menos tentar. O olhar com o qual me deparei na Elos da Vida, era uma manifestação de atenção. As pessoas que andam na grande avenida, muito têm a aprender com um olhar atento de um cachorro cego.

31 agosto 2009

Delírio Emocional de 1º grau: Lembranças, Saudades e Anestesia.

Parte IV – Conchas na areia.

Acordei de ressaca. A noitada de lágrimas e lembranças foi longa. A dor de cabeça não é culpa da bebida, mas sim da intensidade do choro de ontem. Ninguém me viu nessas condições. Aposto que lá no trabalho todos olham para mim e dizem: “Olhem ali! Que cara bem sucedido e feliz!”. Idiotas! Eu invejo a maioria deles. Todos têm família, amigos, saem nas sextas à noite, tem com quem dividir as alegrias e, principalmente, os momentos difíceis. Levantei-me e fui direto para a cozinha, comi algo, tomei dois goles de suco e larguei meu corpo inerte no sofá acolchoado da sala de estar. Olhando bem para o álbum de fotos agora, até que consigo enxergar momentos em que realmente estive feliz. Agora estou colhendo conchas na areia, procurando algo de bom numa praia cheia de mazelas.
Numa das fotos felizes, meus pais estão me observando entrar em uma montanha russa. Aquele parque abria temporada todos os anos no nosso bairro e sempre estávamos por lá. Comíamos pipoca, caminhávamos observando todos os brinquedos. Alguns eu entrava, outros eram grandes e assustadores, então esquece. Aquela era minha primeira vez na montanha russa. E está aqui. Nessa foto. Minha cara de apreensão ficou bem estampada não é, pai? Você naquela época ainda me amava e se preocupava com sua família.
A saudade agora aperta como poucas vezes apertou nos últimos dez anos. Nunca amei meu pai de verdade. Podem me chamar de monstro, de insensível. Mas acho que ele mesmo me treinou assim. Para não se apegar tanto a ele, pois já devia estar preparando o terreno para suas escapadas conjugais e paternais. Mais uma vez me vem à mente aquela maldita da Sônia. Mas não é hora de pensar nela, agora estou me sentindo até feliz ao ver essa foto. Saudade é um sentimento bom muitas vezes. Consigo enxergar a nossa vida naquela época, onde papai e mamãe estavam vivendo seus sonhos: transformar-nos numa “família feliz que mora numa casa legal e se diverte unida!”.
Ainda continuo sem saber o que significa sinergia. Qualquer dia eu procuro o dicionário aqui e vejo o que raio é isso. Não pergunto a ninguém, pois já imagino até a gozação: “Vocabulário fraco esse o seu, pra quem é formado em direito!”.
Tem outra foto que estou sentado na moto do tio Jorge. Velho e sacana tio Jorge... Não me arrependo nem um pouco de ter arrancado o escapamento desta belezinha de moto. Mas naquele momento ele ainda caia nas minhas graças e eu nas dele. Adorava brincar em cima da Honda dele. Admirava aquele painel antigo e adorava o acento. Criança é uma criatura besta, se contenta com cada coisa inútil. Mas ali, aquela coisa inútil, fazia-me sentir um ser poderoso, amado, idolatrado e que não poderia haver canto melhor no mundo do que aquele acento velho e costurado. Sentir a devoção do povo quando você é pequeno deve ser legal. Pena que crianças não têm tal percepção.
Olha que cara de bisnaga amassada a do tio Jorge! Há, Há, Há! Melhor vê-lo de forma hilária a lembrar de todas as pilantragens cometidas por esse cafajeste.
Não tem mais nenhuma foto que me faça recordar algo de bom além destas. A infância foi o único período divertido que tive. Depois a mecanicidade dominou o meu lazer e minha forma de diversão. Fecho agora este álbum lixo, saindo da praia das mazelas com apenas duas conchas no bolso.

26 agosto 2009

Delírio Emocional de 1º grau: Lembranças,Saudades e Anestesia.

Parte III – Hope Leaves.


“No canto ao lado de minha janela
Há uma fotografia solitária pendurada
Não há nenhuma razão
Eu nunca noto uma memória que poderia me segurar (reprimir)”

Somos eu e Mr. Jack Daniel’s nos confraternizando ao som de Opeth, esperando o momento de colher o sofrimento nos acordes limpos e melancólicos de “Hope Leaves”. Guardo na primeira gaveta do criado-mudo um álbum de fotos antigas, onde eu fingia que era feliz e meus pais fingiam me fazer feliz. Guardo algumas fotos do colégio, da faculdade e de minhas viagens pelo mundo a fora. Sim, já viajei muito com o dinheiro que ganho como funcionário público. Já estive em Paris, Berlim, Lisboa e em várias outras capitais européias. Paris é conhecida por todo o seu charme e beleza, mas acho que só poderia ver isso se estivesse com alguém ao meu lado. Todas aquelas recordações não me fazem recordar nada. Sou um chimpanzé morando numa floresta exuberante, mas com nenhum colega para me coçar.
Talvez se alguém me vir nessa situação fique com pena de mim. Porém, não sei se quero que aconteça isso. Morra por hoje, Mr. Jack! Chega de suas passeatas pelas entranhas de minha garganta! Agora quero apenas ouvir sua voz, Mikael. Cante! Você é como eu, cara. Você me entende. Não me conheces, mas essa música fala sobre mim. “There is a wound that’s always bleeding, there is a road I’m always walking and I know you’ll never return to this place”.
Não consigo me livrar da moralidade imposta pela minha consciência. Fiz muita besteira todo esse tempo da minha vida, será que consigo viver em paz depois dos quarenta? Por que não sei quanto tempo irá durar esse processo de lembranças e de dores profundas. Será que um dia vai passar?
Seguirei ouvindo essa canção, para todos os efeitos. Não me faz sentir melhor, mas me alivia. Saber que alguém escreveu algo que se enquadra no contexto de minha angústia.


“Passado por dias sem falar
Há um conforto em silêncio
Tão acostumado a perder toda a ambição
E lutando para manter o que resta”

Não, Mikael. Nada mais me resta...

24 agosto 2009

Delírio Emocional de 1º grau: Lembranças, Saudades e Anestesia.

Parte II – Dez centavos e duas balas de hortelã.

Era uma vez uma criança que morava na Casa Bonita, cheia de flores e árvores esbeltas. Sua vizinhança era pacata, alegre e muito acolhedora. Morava ao lado da Casa Bonita, o senhor comerciante, um homem velho, bigodudo e muito bondoso. O senhor comerciante tinha uma bodega. A bodega do senhor comerciante era legal. A criancinha gostava de ir à bodega do senhor comerciante para comprar qualquer coisa que sua mãe o mandasse. O senhor comerciante era um homem que gostava das crianças. A senhora mamãe pedia todo dia para seu filho ir comprar o que estava faltando em casa lá na bodega e, como uma boa criancinha, o rapazinho ia todo contente e voltava com as compras.
Um dia, a criancinha estava indo para bodega feliz e saltitante, para comprar um refrigerante para o almoço. Deu o dinheiro ao senhor comerciante e já ia saindo saltitando para voltar à Casa Bonita, mas foi quando o bigodudo disse: “Você não vai querer seu troco, jovenzinho?”. O meninozinho ficou parado. Nunca havia ocorrido algo assim com ele até aquele exato momento. Seus pensamentos ecoavam em sua mente. “Filho, tome aqui o dinheiro para comprar o refrigerante! Tome cuidado, cuidado, cuidado...!”
Ficou um tempo de cabeça baixa, meio embaraçado com a situação. Olhou para o velhinho e notou que esperava pacientemente por uma mão estendida para receber o tal troco. Então o fez. Recebeu trinta centavos! Minha Nossa! Como a criancinha ficou contente!
Mas depois de um instante, voltou a baixar a cabeça e refletir. “Será que mamãe vai querer o troco? Será que ela sabe quanto custa o refrigerante?”. A inocência escapava daquele corpinho de anjo. “Moço, Me vê duas balas de hortelã, por favor!”.
Uma bala de hortelã custava dez centavos. Então, a criança comprou duas e ficou com dez centavos no bolso. Quando o anjinho chegou a Casa Bonita, a senhora mamãe perguntou se havia sobrado troco. O menino sorriu e balançou a cabeça negativamente e a mãe lhe deu um beijo na testa. Depois desse dia a criança despertou para novas concepções e novos valores. Os anos foram passando. A Casa Bonita envelheceu, as flores murcharam, os galhos das árvores quebravam telhas constantemente e a maioria da vizinhança pacata mudou-se para outros bairros. Já não suportavam mais aquela chatice. O bairro ficou quase vazio, por isso mais perigoso. O senhor comerciante morreu ao reagir a um assalto, pondo fim a bodega. A sorte da família que morava na Casa Bonita é que tinham aberto um Super-Mercado a poucos quarteirões.
A criancinha cresceu, virou um adolescente de boas notas escolares. Com uma qualidade dessas, seus pais não tinham mais com o que se preocupar. Afinal era apenas isso que importava naquele momento! Não era? Vocês não ligavam se eu tinha roubado aquele troco de trinta centavos! Mamãe sabia que tinha sobrado troco! Mas não me repreendeu! Nem falou nada quando apareci na Casa Bonita com o radinho de pilha do Lineu, não é mamãe? Será que você está no céu por causa das suas atitudes “bondosas” para comigo, mamãe? Ou está sofrendo no ínfero por não ter me posto limites?
A criança virou um cara solitário. Rico, bem sucedido, mas não consigo tirar todo esse peso de cima dos lombos! Estou começando a acreditar que você realmente colhe o que planta. Até hoje estou colhendo balas de hortelã.

22 agosto 2009

Morte ao Ego ou Conto Dadaísta

Passara quase sete semanas sem se alimentar normalmente. Ele e a mulher estavam em vestes maltrapilhas, com um cheiro insuportável de ovo podre. Eles sorriam.

Semana passada tiveram uma discussão e acabaram por matar um ao outro: jamais seriam os mesmos. O dinheiro dá poderes que ludibriam a razão, diziam. Assim, separaram-se na vida de luxos (e luxúrias) para viver sob o lixo da humanidade.

- Não encosta no meu carro, otário. - Disse um jovem de paletó cinza.

O homem riu, mas a mulher enfurecida, dirigiu-lhe um gesto constrangedor. Vagavam em busca de algo perdido, algo que não existia mais ali. Vagavam em busca de algo que lhes desse prazer e alegria. Pelo menos nosso filho está bem...

Enquanto isso, dois amigos, um de paletó cinza e o outro de terno sem gravata, conversavam sobre seus carros, suas máquinas, suas mulheres e seus dólares. Saíram rindo, até se encontrarem face a face com os pobres miseráveis. Foram eles, eu juro! Após estas palavras eles foram surrados e apanharam como nunca na vida apanharam.

Com o rosto sangrento, o maltrapilho, diante do filho que lhes espancava, disse:

- Chega de teatro, querida.

Delírio Emocional de 1º grau: Lembranças, Saudades e Anestesia.

Parte I - Comportamento transitório protagonizado pelo velho Mr. Jack Daniel’s.

Trinta e cinco anos, formado em direito e funcionário público. Há cinco anos moro num apartamento em frente à praia. Vou muito bem de vida, obrigado. O trabalho é puxado, então aproveito a minha casa apenas nos fim de semana. Nos cinco dias úteis apenas chego e deito na cama torcendo pela manhã seguinte nunca chegar para que eu possa dormir até o início do próximo século. Meu apartamento é grande, tem vista pro mar e é bastante caro. O último adjetivo é o que o torna mais interessante e magnífico. Você pode morar num apartamento do tamanho de um ovo, abafado e cheirando a mofo, mas se disser “Hei cara! Meu apartamento é na beira-mar e custa uma fortuna!” Tudo fica mais atraente para os olhares alheios e seu ego atinge níveis altíssimos.
Sinergia, o que significa esse troço? O meu lar segue mais ou menos essa divisão: Sala de estar, suíte, cozinha, copa e varanda. Uma baita sala de estar e uma larga varanda. Deve ser legal sentar numa varanda como a minha e ficar conversando com os amigos até a noite chegar. Nunca veio ninguém ao meu apartamento. Só eu e o velho Mr. Jack Daniel’s. Passamos muitas noites de sábado naquela varanda. Eu olhando o mar, Mr. Jack derramando-se no copo de vidro ao som de alguma música deprê do Opeth.
Mr. Jack me escuta. Mr. Jack me junta quando estou em cacos. Mr. Jack é o meu redentor. Eu o amo, Mr. Jack. Compro vários dele a cinco anos, desde que me mudei para cá. Chegar num novo lar, largar o passado e pensar numa vida nova. Bem, o que melhor numa situação dessas do que a companhia de alguém como Jack Daniel’s?
Não tenho mais amigos. Estou ganhando bem demais para ter amigos ou familiares. Como tem gente oportunista nesse mundo, então é melhor nem arriscar! Mamãe morreu quando terminei minha faculdade então que vá pro inferno o resto da minha família. Vamos Jack, mostre-me o seu consolo agora! Mamãe não viu minha formatura, pois ela morreu. Papai não viu minha formatura, pois eu pareço ter morrido para ele. Tive pai até os meus 10 anos, depois o cara parece ter esquecido que tinha um filho. Ele não fugiu de casa, fez algo bem pior. Continuou morando conosco. Papai morreu por dentro, não entendo até agora o motivo. Por que, Mr. Jack, Por quê? Talvez depois de mais alguns goles você me faça entender um terço dos meus problemas. Aquela desgraçada da Sônia! Sim, a culpa foi dela também! Ela usur... Sur... Usurpou! Pou! Há! Há, há,há! Hoje você está demais, Jack. Continue assim, filho. A Sônia era uma mulata que trabalhava lá em casa! Mamãe a demitiu, aí papai ficou daquele jeito. Putz! Deixasse a desgraçada lá, mamãe! Papai lhe traria chifres, mas iria me fazer uma criança mais feliz.
Eu tinha amigos, Mr. Jack! Eu tinha! Só que eles sumiram! Eu pedi pra eles sumirem, mas pôxa! Pôxa! Por que não vieram atrás de mim? Não era pra ter seguido minhas ordens desse jeito! Eu tinha muitos amigos. Eram dois, mas eu sentia que eram vários. Jack, Jack, Eu posso chorar na sua frente. Não tenho vergonha. Até porque, acho que não tenho escolha.

(continua...)

21 agosto 2009

Olha só quem está de volta...

Olá, caros visitantes do VA! (cri, cri, cri...)
Depois de um longo e tenebroso inverno, estou aqui de volta. Passei algum tempo sem postar nada. Tá, um bom tempo. Muito tempo. Enfim, voltei a postar e é isso que importa! E para compensar este tempo ausente, em breve começarei uma série que já venho desenvolvendo a um certo tempo. Chama-se "Delírios Emocionais Contraditórios". Não, não vou fazer uma sinopse pra ninguém. Apenas acompanhem essa história e sintam o texto como quiserem sentir.

Haikai 2

A juventude e a sabedoria
os mundos em transe
fundição, elocubração.

27 julho 2009

Réquiem

É noite de lua nova, céu escuro, estrelas à mostra. O vento, vagarosamente, uiva como o velho Aracati. Enquanto observo o céu, tão infantil e desconfiado, vou notando as estrelas. As Três Marias, o Cruzeiro do Sul, a Estrela d'Alva e outras constelações perdidas pelo espaço e pelo tempo. O fato é que esses astros que tanto nos impressiona não existem, quando os olhamos. As estrelas são, nada mais, nada menos que um retrato do passado. Assim o "agora" também vai embora. O tempo escorrega discretamente e assustadoramente. O agora não existe. O presente não existe. Vivemos encapsulados em um passado e em um futuro que sempre existirá até perdermos 21g. Eu sou o tudo e o nada simultaneamente. Meu corpo é um objeto sem nenhuma função. Ele apenas é em-si. Minha consciência, porém, me dá o sentido da vida e as relações tempo-funcionais dos corpos. Não tenho uma essência definida. Vivo unicamente de momentos que passa(ra)m e do que posso fazer do futuro-presente-passado. É isso, meu caro, só existimos no passado. Como disseram uma vez, a existência precede e governa a essência. Liberdade? Ha! A liberdade não é limitada, como pensam. Nós mudamos o nosso curso de história! E por isso a liberdade existe e é possível sim. Aliás, ela é o cárcere dos homens. Afinal, todos sonham, lutam e morrem por ela. Nós somos nossos próprios carrascos. Sim! Somos um eterno vir-a-ser impossível. E estamos sempre querendo nos adaptar aos outros, mas nem sempre isso é possível, óbvio. Nós pensamos de modo diferente, embora possamos ver algo de comum um no outro. Sim, somos capazes que fazer coisas que não imaginamos, nem prevíamos fazer para com os outros. Isso me faz pensar na alegoria da caverna. Quando estamos sozinhos, sem convivência, não podemos conhecer a realidade, tampouco, reconhecer-nos. O nosso espelho é o outro. Só através dos outros que vemos por completo nossa essência momentânea e a verdadeira conscientização dos meus atos. "O ser Para-si só é Para-si através do outro". Se o inferno são os outros, nós somos os demônios... Eu serei dissipado em todas as partes. Parte de mim está em um poema de Pessoa, nas entrelinhas de Clarice, em um grito sentimental e distorcido de um solo de guitarra. Encontro-me na melodia de um pássaro, na luz de uma estrela inexistente, refletido nos olhos de um cão sentado ao pé do sofá. Eu sou um turbilhão eterno e desconhecido. O telefone toca. O despertador avisa que é hora de tomar o remédio. Engulo o comprimido. Deito na rede. Balanço suavemente. Olho o teto. Olho o tempo voar. Vejo a vida passar. Aguardo o conhecimento absoluto do existir.

06 julho 2009

Linhas: metade escritas, metades apagadas

Boa noite, caros amigos leitores, é com imenso prazer que escrevo esta crônica. O fato é que não tenho assunto algum de interessante para contar-lhes e decidi abrir o jogo: quantos contistas, quantos cronistas, quantos poetas fizeram algumas de suas produções com a ideia de falar de algo sem estar com ideia? Desculpe-me se soou confuso, mas refresco-lhe a memória: Drummond disse que "a mão que escreve este poema não sabe o que está escrevendo" e "gastei uma hora pensando em um verso que a pena não quer escrever". Tudo bem, não gastei uma hora, pois logo veio-me a ideia já tanto discutida como essa (que os críticos chamam de metalinguagem). Bom, sem falar da (nova) Poética de Bandeira: "estou farto do lirismo bem comportado, do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor". Ou dos rítmicos e simétricos versos de João Cabral de Melo Neto? "Eu penso o poema da face sonhada, metade de flor metade apagada. O poema inquieta o papel e a sala. Ante a face sonhada o vazio se cala". E digo-lhes que um escritor sofre, além da vida tão "pau" (como diria o velho poeta Antônio Girão Barroso) temos que escrever periodicamente para agradar o prezadíssimo leitor do jornal. Fora os pedidos que nos fazem! A literatura não é mercadoria para encomendar, céus! Todos nós temos um quê de Meireles: "Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço, - não sei, não sei. Não sei se fico ou passo".

Então assim como todos os imortais da academia de letras já passaram por algum momento de um vazio silenciado pela ausência da ideia, eu mero mortal, um escritor de gaveta que publica esses textos tão simplórios e ridículos, assim estou. E acho bom terminar a crônica por aqui, antes que eu escreva páginas e páginas de parágrafos tão cheios de nada.

"Pois aqui estou, cantando. Se eu nem sei onde estou, como posso esperar que algum ouvido me escute? Ah! se eu nem sei quem sou, Como posso esperar que venha alguém gostar de mim?"

02 abril 2009

Fumaça e temores

Ao apagar do último candelabro
Deu-se voz ao silêncio macabro
E eis que toda carne se fez espírito
Os lábios ressecaram-se
As mentes congestionaram-se
O campo físico perdeu-se
Entre fumaça e temores

Cegos raios de certeza
Eletrocutavam a consciência
Alheios botes se acalantavam
Gestos ocultos se mostravam
A culpa era notória
Dos homens desalmados
Ao redor da alma encorpada

O combustível pelo corpo escorreu
A identidade desfaleceu
Entre fumaça e temores

21 fevereiro 2009

Serpente

Não me toque
Esse seu corpo imundo
Sinto meu corpo arder

Suas palavras passeiam em
Meu cérebro num
Vai
e
Vem
Como serpende sábia
Que sai sibilando
________ sussurando
_______________suavemente
___________________surpreendendo sua
presa.
A minha alma rasgada e picada
Exala peçonha e dor
E está presa numa gaiola aberta
De portas abertas e cerradas
De sua boca cospe veneno
De suas presas saem palavras
Tão distantes ignotas idiotas
Não me toque
a madrugada sorri
o luar de prata cai sobre minha
cabeça
_________confusa
esse meu sangue imundo que jorro pela boca
esse meu falar arrastado
esse seu andar arrastado
a minha visão embaçada...
seus olhos de traição
não me toque
________não me toque
vá embora
sssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss
________________sssssssssssssssssssssssssssssss
____________________________ssssssssssssssssssssssssaia.

06 fevereiro 2009

Saia desse corpo

The new tram started
Abertos braços para seu torniquete
Não distraio meus olhos
My mind is all sucked
Lindos momentos
Travados pela angústia
Cravados por sua fúria
Os Espinhos em meus pulsos
Sangria, nova vida para vós
Em nosso povoamento de descarinho
Without escrúpulos and nor affection
Processos idiomáticos perdidos
Em minha forçada emoção
Devotos são de uma futura erudição
Perdida em uma pose de inovação
Rimas quebradas neste instante
Para uma nova
Phrase in another language
Receoso pelo futuro julgamento
Enfeito aqui novas palavras de lamento
Perdidos estão todos os seres desta terra
Resta-nos procurar novas atenções
Provocando com desconexões
Novas estúpidas discussões
Saia desse corpo

04 fevereiro 2009

Veneno

Uma víbora mordeu minha língua
Anestesiando todos os meus sentidos
Com o seu veneno pecaminoso
E partiu para nunca mais retornar
Sentirei falta de seu veneno
Que fez-me esquecer
Seu mal-estar trouxe-me
Bem-estar
Bem-vindo ao esquecimento sadio
Saboreando um desejo doentio
De largar mão do bem pré-suposto
Para sentir os delírios saborosos
Proporcionados por uma droga natural
Víbora volte
Minha carne anseia por sua próxima mordida
Minha pele anseia pelo escorrer do frio suor
Desejos
Bocejos em sua espera
Demorada espera
Nexos cortados por seu veneno
Sim, é o que mais anseio

11 janeiro 2009

Hora do Remédio I

Ei, psiu, você! Já tomou remédio? Não? Está na hora, viu! Ei, ei! Cuidado com o fio! Como você se chama? Rebeca? Roberta, ah sim, desculpe. Porque a senhora está aqui? O seu filho é mau? Ei, rapaz, mais água aqui, por favor! Enfermeira, traga o remédio. Não mexa neste botão! Não mexa neste botão! EI, EI! Meu Deus do Céu! Acudam aqui! A mulher desmaiou! No três. 1, 2, 3. Nossa, como ela está gorda. Cale a boca e ajude! Você vai gritar comigo? Já estou! Ei, ei! Quem precisa ir para o hospício são vocês! Cuidado com a porta, cuidado com a porta! Abra a porta, Maria! Calma, senhor. Calma nada! Estou com uma idosa em meus braços quase morrendo! Quem o senhor ou a senhora? Não interessa abra logo. Finalmente. Ela acordou. Senhora, já disse que tem de tomar o remédio (e você não futrique nos aparelhos, senão vou mandar cortar sua língua!)

O que a senhora vê aqui? Espíííritos! Não, dona Roberta, quantos dedos a senhora vê aqui. Três, certo. Ela está bem. Mas dona Roberta, desde quando a senhora vê alma? Ah, sim, seu filho a internou aqui porque disse que a senhora estava ficando caduca? Me respeite! Perdão, senhora, mas ainda falta preecher seu formulário...

São todos uns idiotas, perdidos neste planeta! Idiotas alienados pela salvação! Vocês são uns vermes! Eu sou Deus! Maria, por favor, atenda o filósofo ali, que não estou mais com paciência. Dane-se! Não vou tomar esse remédio! Eu sou onipotente! Vocês, seres mortais, querem de destruir com essa pílula?! Vocês não vão...aaaah. Cof, cof. Pronto, agora pode discursar a vontade. Miserável!

Ei, EI, EI! Cadê meu remédio??? Vocês não querem dar o meu remédio? Vocês querem me matar? Eu tenho que tomar esse remédio! Eu preciso deles! EI, EI, enfermeira! [...]

Fim do expediente