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30 setembro 2009

Figurativo*

Penso, respiro, não digo que existo
Sirvo, divirto, não piso
Entro, saio, não altero o previsto
Movimento, ação, não aponto a direção

Imobilidade orbital, sedimentação espiritual

Falo, gesticulo, não expresso
Analiso, critico, não protesto
Ativo, compulsivo, não consigo
Estigmatizo, Excomungo, não justifico

Passividade vital, inquietação sobrenatural

*(Postado em 21/09/07 no blog Diving Within - www.divingwithin.blogspot.com)

22 setembro 2009

Delírio Emocional de 2° grau: Indignação, Abandono e Degradação

Parte I – Mendigos usam Black – Tie.

Uma droga de festa. Todos aqueles insuportáveis colegas de trabalho andando de um lado para o outro na cobertura de um apartamento luxuoso. Beth, uma perua despudoradamente mascarada. A mulher não conseguia disfarçar o seu estado de êxtase por ter pessoas da alta sociedade em sua residência. “Senhor Desembargador, precisa vir mais vezes! Faço um ótimo fondue...”, dizia mal contendo o abanar frenético do seu rabinho. O seu puxa-saquismo traz bens materiais, alto salário e regalias, mas a coleirinha vai apertando. Ela não percebe, mas os seus companheiros de trabalho estavam comentando as cenas dos próximos dias. A coleira de Beth vai sufocá-la. E todos ali a abraçam, a elogiam e bebem do seu vinho importado. A peça no teatro elitista estava no meio e eu não sabia qual era o meu papel.
“Passar uma tarde Itapuã... Ao sol que arde Itapuã...”. A bossa misturava-se aos perfumes, charutos e risadinhas ridículas. Alguns de meus superiores já estavam completamente bêbados depois da segunda taça de cidra. Eles conversavam sobre literatura, arte e filhos que enviaram à Europa. Velhos inúteis. Porcos cheio de si, lotados de conhecimento exibicionista. As amigas de Beth permaneciam sentadas no sofá de couro. Trocavam elogios sem ao menos deixar de olhar para os espelhos. E eu ainda não encontrava roteiro algum, não lembrava nenhuma fala. Não tinha personagem, fazia parte do cenário.
Quando cheguei, vim logo ao seu encontro, Mr. Jack! Precisava olhar para alguém digno de confiança. Isso! Confiança! A falta dela naquele ambiente é que me fazia sentir parte da mobília francesa. Pessoas ricas, bem apresentadas em roupas de grife, lindos carros no estacionamento, um papo de cultura erudita decorado. Basta um toque para que as cartas de baralho desabem. Não existem amigos. Por que tanto pedantismo, afinal? Ambiciosos malditos! Não se satisfazem com o que tem, precisam mostrar uns aos outros suas posses e ver o que o coleguinha tem para que ele possa invejar. São todos uns mendigos, esta é a verdade. Mendigam por atenção e prestígio. Mendigam por alguém que os inveje. Mendigam por um olhar falso. Eu não sou um deles! Sou um cara frustrado, sozinho, que agoniza pelos erros cometidos. Mas não sou um mendigo fedendo a fragrâncias dentro de um Black-Tie.

21 setembro 2009

Pétalas Secas*

Venho te ofertar o que possuo de melhor
Um punhado do meu ser
O reflexo de uma trajetória
Pétalas secas e espinhos cegos


*(Postado em 26/09/07 no blog Diving Within - www.divingwithin.blogspot.com)

04 setembro 2009

Delírio Emocional de 1º grau: Lembranças, Saudades e Anestesia.

Parte V – Momento pré-cirurgia interna alucinógena.

Eu vou esquecer de tudo agora mesmo! Meu sofá é tão confortável! A brisa está muito boa hoje, a atmosfera silencia-se ao meu redor. Olhos fechados não querem se abrir jamais. Como eu queria cegar meu coração, tirar todo o sentido das lembranças que perturbam o desenvolver da minha história nessa terra onde só os corretinhos e arrependidos terminam com um sorriso na cara. Relaxo para não quebrar tudo. Assim que deve ser. Eu acho. Escuto apenas o barulhinho do vento regendo a dança dos coqueiros que enfeitam a entrada do meu prédio. Imagino que o mar possa estar lindo e vaidoso hoje. Detesto o mar, mas deu vontade de imaginar isso agora. As pessoas no calçadão devem estar vendendo, comprando, correndo, caminhando, roubando, namorando, gritando, xingando, brigando, cheirando, bebendo, dançando, pirando, sentando, levantando, pulando, jogando, abrindo, fechando, uma flexão, duas flexões, chutando, passando, cabeceando, travando conflitos, bolando conflitos, encerrando conflitos, se acertando, se lascando. Se eu vendesse camarões à beira-mar, poderia tentar ser menos preso aos meus problemas e conviver com mais pessoas. Quem sabe um dia isso não possa acontecer? Mas, por enquanto, não troco esse meu sofá luxuoso por nada nesse mundo.
Se sabedoria é boa, porque não a encontrei nas prateleiras do shopping center? Dizem que o que é bom a gente compra, não dá. Pelo menos eu me lembro de alguém falando isso, ou era algo parecido. Essa brisa me lembra outra música do Opeth... Sim, eu gosto muito do som de Mikael e seus companheiros, ok?
O vento bate na janela e posso ouvir, como se minha mente gerasse o áudio completo de “In My Time Of Need”. A função anestésica que esta canção exerce sobre meus prantos não tem medidas possíveis de serem calculadas. “I...can’t...see...the...meaning...of...this...life...”, e assim a dor já começa a desencanar da minha alma por alguns minutos.



"E eu devo contemplar esta mudança,
Para amenizar a dor..."


Acho que você está certo, cara. Eu devo amenizar a dor. Mesmo que esta mudança me faça sofrer uma auto-degradação.

02 setembro 2009

Quando a mídia seduz as córneas*


A psicodelia disfarçada invade minhas córneas mais uma vez, insanamente estou a pedir que a verdade não me apareça vestida com cores e frases feitas. Na frente de nossos corpos acomodados no sofá são apresentados moralismos e costumes numa falsa sedução, fada madrinha, papai Noel, um santo homem cristão. Trace o seu destino, compre mais barato, obrigado por se deixar sugar, programas de verão à beira do mar.


A Inocência existe, idiotice não tem limites, traição, comprar um pão, ir à praça e jogar xadrez na casa do João. Craque, crack, assista ao futebol, polícia ao ataque! Mude, use, compre batom! Seja, leia a Veja, exista em um mundo “X” de hipocrisia demasiada.

Boicote as palavras, o povo quer ver sangue. Morte ao assassino! Vê se pode, decapitou um menino! Criamos desejos e malícias, não vivam reclamando, tire a roupa e saia proclamando: “Diga não à prostituição!”. Semana santa, queremos papa, pa – pé – pio, sapatos da Casa Pio. Poluição no mundo, diga não à destruição! Quem vai ligar para um simples pedaço de papelão?

Vejam que lindo anel de ouro! Das feridas africanas escorrem vísceras, traga a vasilha! Traga a vasilha! Cinco semanas de trabalho por apenas alguns centavos! Nossa Senhora me dê a mão, dance comigo este samba – canção. O fumo mata, funerária dá lucros, santo homem, a overdose o levou. O mundo acabou! O mundo acabou! Busquem a salvação, tenho uma excelente promoção...


*(Postado no blog Diving Within, dia 15/03/08 - www.divingwithin.blogspot.com)

01 setembro 2009

Visões sentidas

Às margens de um mar caótico pode-se encontrar, por vezes, pequenas e delicadas vidas na areia fofa. Andando pela Av. Barão de Studart, no Bairro Aldeota, ouvimos o rugir de motores e buzinas, aspiramos o odor fumacento sem lacrimejar, pisamos nos cantos vestidos pelo asfalto magmático. Estudantes, motoqueiros, frentistas, ônibus, fios, olhos fitados no próximo passo. Olhares perdidos em seus próprios futuros, em suas privadas situações, indiferentes ao grande mar que rodeia suas ilhas de aprisionamento. Ao chegar a uma esquina, próxima a um tradicional restaurante japonês da avenida, uma simpática rua floresce. Afonso Celso. Não sei se o nome se deve ao saudoso personagem de nossa literatura, apenas sei que o valor da rua está no silêncio. As buzinas, o som dos passos, os motores, vão diminuindo seus respectivos volumes para dar lugar ao som do vento batendo nas árvores. Uma rua de pouco movimento. Algumas clínicas, um centro de artes, casas antigas e a Associação Elos da Vida. Foi neste último local citado que encontrei a motivação para escrever este texto. Ao passar em frente à Associação, um ser simpático me aborda bem no portão de entrada. Na Afonso Celso, os olhares mostram-se mais fixados ao passado e ao presente. O olhar de quem me recebeu no portão mostrou-se atento, buscando-me com euforia, exprimindo toda a carência retida. Seus pelos loiros e caídos, mostravam uma idade já vencida... A melancolia de uma visão seca perseguia-me, como se quisesse regurgitar em mim o seu pranto, sentir-se acolhido por uma presença afável. Os olhares da Avenida mostraram-se egoístas, buscando suas próprias arredomas trancadas. No ar, a negligência de um pedido que não foi feito, o cerco invisível, mas que perfura sua carne profundamente ao aproximar-se. Olhares que se diluem... Sós. Por opção. Rejeição. Insatisfação sem nem ao menos tentar. O olhar com o qual me deparei na Elos da Vida, era uma manifestação de atenção. As pessoas que andam na grande avenida, muito têm a aprender com um olhar atento de um cachorro cego.