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09 novembro 2009

A grande farsa

Algo soava a falsidade nesta segunda-feira. Hoje estava encarregada de solicitar a declaração do curso (pois após esperar 78 dias pela identidade estudantil, gastando com ligações para o DCE e quando finalmente recebo, disseram estar desbloqueada sem estar), então fui por volta das 15h até o Centro de Humanidades da UFC. Preenchi a papelada (já pensando que vou receber só daqui a uma semana - considerando que os funcionários públicos trabalhassem em prol do público), agradeci e fui embora. Sabendo que a única alternativa de quem quer se deslocar da movimentada Av. 13 de maio para a grande e esburacada Av. Bezerra de Menezes é a maldita topic 55 (o inferno sobre 4 rodas), decidi pegar o ônibus que para praticamente em frente da minha casa. A parada deste é na esquina da caótica Av. Duque de Caxias com a Av. Imperador. Não é uma das maiores distâncias que andei (acredite), mas na metade do caminho parecia que meus pés estavam pegando fogo. Faltando uma quadra para chegar à parada quase não estava mais pisando no chão. Peguei o ônibus (e fui assoprando os pés até chegar em casa). Cheguei em casa e fui analisar o que havia acontecido. Finalmente, depois de alguns minutos de alívio e de observação cheguei a seguinte conclusão: chinelo havaiana falsificada.

Por favor, antes de comprar a sua verifique se tem aquelas carocinhos de ventilação. Seus pés agradecem.

07 novembro 2009

Tardes de Inverno

Tinha seus 102 anos lúcidos e bem vividos. Quando mais jovem era uma grande atriz da época dos musicais. Agora acompanhava as brincadeiras dos bisnetos, sempre sorridente na cadeira de balanço. Era muito querida pelos familiares e amigos. Gostava muito das tardes de inverno, pois é quando o céu ficava mais enigmático e inconstante, mudando suas cores a cada pequeno instante.
 Nas tardes de verão sentava na calçada e ficava conversando com os vizinhos, falando da época em que o teatro tinha prestigio e o francês era a língua mundial. Via-se saudade nos olhos quando assim falava. Os netos perguntavam como haviam sido as guerras, mas ela recusava falar desse assunto. Dizia também que os atores eram mal vistos, embora todos levassem suas famílias para assistir espetáculos. Como queria que o tempo voltasse...
 Quando anoitecia levava a cadeira para dentro, tomava banho, bebia um copo de leite, escovava os dentes e ia dormir. Falava dessa rotina, da idade que não a permitia fazer mais o que quisesse. Mas mesmo assim não reclamava: apenas franzia a testa e abria um grande sorriso aos ver os bisnetos. Sempre fora feliz e não seria agora, tão perto de partir que iria fazer tempestades. Muito pelo contrario, tenho que aproveitar ao máximo esses bons momentos.
 Todo dia assistia o pôr-do-sol no alpendre da cadeira na cadeira de balanço que sempre sentou, desde quando era mais jovem, para ouvir sua mãe contar as fábulas de Esopo e histórias do oriente. Quando olhava para frente via-se um enorme gramado extremamente verde, que se destacava nessas tardes de inverno. A grama molhada fazia cócegas nos pés de quem andava em meio ao sereno.
 Um dia desses teimou em levar os quatro bisnetos para o parque. Quiseram dizer que não fosse, pois estava muito frio e poderia fazer mal para ela. Insistiu até que cederam. E assim foram brincar coma areia do parque, debaixo dos velhos flamboyants, fazendo castelos e imaginando coisas impossíveis. Eram cinco crianças que brincavam.
 Os bisnetos voltaram exaustos para casa e foram descansar cada um em seu quarto. Ela foi tomar banho. Colocou o perfume de alfazema do campo que tanto gostava, o talco no pescoço w foi ao jardim assistir a mais um por do sol. Sentou-se na cadeira de balanço e ficou vendo o céu mudar de cor. Cochilava em meio à gélida brisa de inverno, até dormir profundamente, como quem jamais despertará.


05 novembro 2009

O bardo das multidões surdas

no som rasgado do bandolim - no seu deleite fermentado - decodificando e desmembrando idéias e sensações - ilusórias e reais - alucinações - alucinações - vive a tocar melodias triviais remontando as carícias repetidas de velhos amores - novos rumores - futuro em geral - passeando por pontes modernistas - derramando o licor de sua garganta para a degustação submundana de terras baixas desprivilegiadas - o bardo segue coberto por seu manto de invisibilidade auditiva - pulsante rítmica dos acordes que não acordam - apenas tocam para multidões que seguem a não escutar