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08 dezembro 2011

Quatro anos e a náusea sob custódia

Desde o segundo aniversário dos Vampiros Anêmicos, tomei o posto de "aquele cara que faz o discurso no meio da festa chata pra cacete" da Raíssa. Assim, nas postagens do dia 8 de dezembro, em 2009 e 2010, expressei em resumo aquilo que este blog significa para quem aqui (raramente)escreve.

Não nos importa o número de acessos nem as tags mais bonitas e chamativas que o Google possa achar. Apenas queremos guardar os nossos retratos aqui. Os momentos de indecisões, as elucubrações e chutadas de balde. Desde 2007, vomitamos nossas ideias, fruto de náusea natural. E será sempre assim.

Devido a ocupações, este certamente foi nosso ano menos produtivo. Não paramos de escrever, claro. Somente não produzimos aquilo que o Vampiros Anêmicos sempre acolheu. Nada é forçado, tudo simplesmente surge no estalo e a sujeira, bem, vemos depois de clicar no "Publicar Postagem", sem caminho de volta.

São quatro anos sem cobranças. E sem vergonha na cara também, admito. Mas sem nenhuma espécie de cobrança. Não temos regras, não temos fórmulas. Só queremos escrever o que escorre pelas pontas dos dedos. No bloquinho, notebook, celular, seja onde for, o que for, quando for.

As experimentações, os rancores e a liberdade não combinam com o dedo na goela. Mesmo que postemos duas vezes no ano, até fragmentos de duas linhas, o vômito sempre estará fresco. E a crosta daquilo que ficou nunca será lavada.

03 agosto 2011

Loja de doces {Sail On}

perdido nos passos para achar descompassos - dissecando luas cheias de branco cálido - calado pelo sol perdido na primeira estação da morte do espírito - sem pena de voltar ao início inédito do que nunca em verdade se foi - delicio ordens com o desprezo - volto à origem pelo apego - sinto falta por nascer em esquecimentos amargos - elevando elefantes brandos elétricos tramitados na vergonha alheia dos meus olhos diabéticos - injetam o doce mais azedo da maldição em harmonias desafinadas - paladar que assenta dormência - cansado de acumular cáries e dolos

31 julho 2011

A noiva (por Juliana Weyne)

Salete, mulher de quarenta e poucos anos, celibatária e temente a Deus, numa bela manhã de domingo, ajudava nos preparativos finais para o casamento da sua sobrinha Dora que aconteceria naquele dia em algumas poucas horas.


Ao distrair-se um segundo, esbarrou acidentalmente em um majestoso arranjo de flores que foi ao chão deixando várias tulipas espalhadas pelo tapete vermelho no qual a noiva caminharia mais tarde com seus pés de pomba. Salete, acanhada, apressou-se em recolher as vítimas de seu descuido e arrumá-las o mais discretamente possível.


Com algumas tulipas em seus braços e ao seu redor, a boa Salete num estalo, como que em transe, levantou-se e saiu da igreja levando consigo algumas das flores caídas e colhendo as que encontrava nas ruas por onde passava.


Chegando numa praça e já carregada de flores de diversas cores, formas e tamanhos, Salete deparou-se com um grupo de turistas italianos que jogavam milho para os pombos que lá viviam. Ainda mergulhada em seu delírio, a pura Salete, ao ver aquele milho pipocando no ar tomou-os por grãos de arroz e deixou-se ser banhada por ele.


Os pombos da praça voaram para a estátua da noiva de milho e flores urbanas, e, depois deles, mais e mais pombos surgiam até que já não se podia distinguir parte alguma da pobre Salete.


Os pombos, por fim saciados, partiram, mas ali já não havia da noiva algum vestígio.

16 julho 2011

A Hora do Remédio: A Loucura e a Incredulidade

Todos os dias deveria rezar. Mas eu não rezo. Sou um louco delirante que grita, chora e ri descontroladamente. Eu estava amordaçado, com uma camisa de força e monstros de roupas e sapatos brancos que diziam ser meus cuidadores.

Na verdade eles dizem que eu sou louco. Mas eu não sou louco. EU NÃO SOU LOUCO! NÃO SOU LOUCO! Eu vejo vultos passarem na minha frente, atormentarem minha mente e sofrerem veementemente.

O que importa é a hora do remédio. Tudo vira luz, paz. Eu apago, mas quando acordo tudo volta ao normal. Eu fico sabendo do que vai acontecer, o que vai acontecer! Vozes, vozes. Elas me dizem tudo!

Eu não sou louco. Tudo que eu vejo é oniricamente real. Certo dia, um tal de André Luiz veio me dizer para eu ter forças e paciência. Ele dizia ser um médico, mas todos do hospital dizem que não há nenhum médico com esse nome.

Pois é, eu vivo rondando entre o real e o imaginário, dizem os doutores. Mas lembro... lembro-me bem que um senhor já de certa idade e cabelos brancos cochichando aos ouvidos de minha mamãe que eu deveria me dedicar à luz e servir ao Senhor, mas minha santa mãezinha, diante toda sua ignorância interiorana, disse que essas coisas que eu via eram coisas do diabo. Ela me levou à igreja, mas com toda ignorância eclesiástica disseram que não tinha jeito. Lágrimas. E assim me internaram neste lugar horrível, cheio de alienados, drogados sob receita e mortos por essência.

(15/07/2011)

18 março 2011

O Pintor

Talvez seja uma boa história, esta que irei contar a você. É a história de Aristóteles, mas não o filósofo, mas o pintor. Melhor ainda, a minha história. Tudo começou na Semana de Arte Moderna no Teatro Municipal de São Paulo, em 1922.

Eu era, sem dúvida, o mais excêntrico dos pintores. Não pelos quadros, mas pelo modo que eu os fazia. Desde criança, eu tinha um dom: o de pintar o futuro de modo espontâneo e inconsciente. Eram colapsos (ou devaneios?) que previam o futuro.

No dia seguinte, acordei exausto e vi um quadro que mostrava quatro rostos: o primeiro era de uma pessoa que todos conheciam; o segundo era apenas familiar, o terceiro era indistinguível e o quarto era desconhecido; Demonstrava a população multifacetada. Dei-lhe o nome “Bellum”. Fui vendê-lo, mas eu continuava com a imagem em minha cabeça.

Em poucos anos, fiz grandes amigos (ou não?). Mas a parte curiosa da história aconteceu em 1925.

Enquanto eu tinha um de meus colapsos, um amigo observou a cena: a blusa manchada de tinha vermelha e um quadro sangrento. Eu pintei a cena do assassinato de um político influente. No dia seguinte, tentei preveni-los, mas disseram que eu estava louco.

Não haveria problemas se o governador continuasse vivo, mas o futuro dele estava condenado e, somente eu tinha consciência disso. No dia seguinte, o político foi assassinado e como não havia provas, eu seria acusado.

Fiquei alguns dias, preso na penitenciária, mas a minha sagacidade serviu para algo útil: fugi. Agora eu era um acusado fugitivo da policia.

Fui para um minúsculo município do interior de outro estado. Fiquei lá por poucos meses, pois apareci em um noticiário e fui denunciado.

Puseram-me em uma cadeia de segurança máxima enquanto pensavam em uma punição bastante severa. Após longos seis meses, puseram, em minhas costas, o peso da morte.

Todos apontavam para mim e diziam que eu tinha matado o governador. Ganhei repudio e fui para uma cela isolada de todos.

É, meu caro, pode falar que fui tolo em não dizer a verdade e provar minha inocência. Somente agora, com a corda no pescoço e várias pessoas falando blasfêmias de mim, eu falei toda a verdade. E essas, meu caro, são minhas ultimas palavras.

10 março 2011

Carrossel dos pôneis mancos e calados

a moça de branco brindando com suas poses de tragédia brinca de abismo - pisando em trapo - trincada pelas próprias palavras de flecha - atinge a glote sem escalpelar a suavidade da fala - ouve todos os sons dos brinquedos aos seus pés - fés de segurar na mão e esconder estando ali - distraíam mentiras lustrando bonecas - olhos de brinquedo não se calam por um segundo - viram as setas para as escolhas certas de um dia sem fivelas e estalos - escurecia de cílios descolados corvos que acolhiam de penas amoladas - antes de morder os lábios para não acordar do quarto - e cair do chão - o piso gelado acolhe os joelhos - faz as marcas para tocar - cicatrizes temporárias de diversão - a moça de branco empossando brincadeiras de tragédia gosta de limitar o abismo pelas pontas dos dedos - lambuza o sangue azul com carne desprovida de míseros detalhes doloridos - mentira - falta a respiração por limbo de medo sofrido - afasta que ninguém alcança - apenas quem causa o afastamento - parte dele - de verdade - mas não longe da mentira - duas versões - adultas - natural e forçada - os brinquedos não se arrastam - não se movem - se estatelam no chão montando e desmontando anatomias de borracha pano e sismas - olhos de boneca lacrimejam no sobrenatural - força do que se vê e não se prova

25 fevereiro 2011

[Vazio]

Peço permissão ao meu amigo Salvador para usar uma ilusração dele para representar o que está acontecendo comigo nesses últimos meses. Conto com paciência de vocês para superar essa crise...



21 fevereiro 2011

Balanços

Ódio que abre a janela não deseja se atirar - mirava a todo tempo os olhos de netuno - concentrado nos detalhes da catapora estelar das veias lácteas - tentava soletrar mistérios de anos que ainda tentam calcular - mistérios dos que calculam - mistérios dos que se sentam em solidão pelos parapeitos do coração - mirava a todo tempo os olhos de fogo que pipocavam luzes - luzes ardentes como hormônios adolescentes em fúria - luzes que mostravam a morte do piso gramado - metros debaixo dos pés - pés voadores sobre cabeças quadradas - bichadas - nada a dizer - sentado no batente difuso para jamais se levantar - o ódio que abre a janela não tem interesses - abre labirintos suspensos para não se achar ao vento

10 janeiro 2011

Inquietude de uma noite nublada

começa com um vácuo - a coisa toda se condensa nos átrios mais cinzentos - e a vela não acende - tudo está escuro sem forma e vazio - como o gênesis de uma nova era - incolor cheia de dores - servindo patas de caranguejo à meia noite - quebrando todos os protocolos do sentido - perdido em divagações - do que poderia ser do que não foi e que provavelmente nunca será - repito meus atropelos em dígitos desconexos - talvez para aliviar toda a pressão - meus pulmões se sufocam - se apertam em fina repulsa ao isolamento - isso é o caos do que não se pode explicar nem rasgar nem fazer bolinhas nem jogar no lixo - posso simplesmente sentir meus pés congelando pelo piso que contacta - recebo as almas para dançar - não acredito nelas mas é o jeito se conformar - confortando-se na última valsa antes de voltar à estaca zero na incerteza do que me faz continuar pensando nas mesmas coisas - em como não consigo dizer refazer destruir montar - a última vértebra desse mundo sou eu - sustentando toda a pelanca podre - mas podre mesmo é o cálcio que me reforça e não reage - não consigo pensar em coisas melhores - não sei pensar em linha reta - nem explodir de forma convencional - queria aprender a arte do velho boom seguido de estrondosos pontos de exclamação enquanto todos se assustam - ao invés disso faço uma espécie de apito mudo incompreensível e todos seguem correndo nas suas pistas escorregadias - na noite das fadas, os camelos vem para se vingar virando o último copo d'água da face da terra - derramam mais do que bebem - ostentam e hidratam com sua baba - o cheiro de terra faz as narinas lembrarem do sangue que corre em suas cavidades - talvez seja hora de me entregar a última respiração consciente da noite delirante que rasga os peitos dos céus cinzentos nublados e revestidos com a áurea tentativa de ser santa - os infernos pintados de ouro nunca serão brilhosos - amém