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27 abril 2010

Delírio Emocional de 2° grau: Indignação, Abandono e Degradação

Parte III – Blood Pigs.

“Alimentado pela ferida da qual sangramos
Vomitando sujeira em nosso fraco antro de cabeças”

Minha cabeça dói. Analgésicos? Não. O dia hoje é de canibalismo. Preciso me recuperar percussivamente ao som de Otep. Girar os pulsos às distorções dessa dimensão tosca em que me meti. Os urros desesperados atingem minhas memórias e me movem para ação. Cada centímetro ao meu redor está fundo e o sofá parece finalmente ter parado de girar após o pernoite e tudo aos poucos vai voltando ao anormal. Uma ressaca realmente infeliz. Deviam ter tocado Blood Pigs na festa do trabalho. Realmente me sentiria um pouco menos enjoado. Todas aquelas figuras patéticas enojadas. Preciso me levantar. Não é fácil passar um mês sem ir ao trabalho, Mr. Jack. Ah, droga. Pisei em um dos vidros. Ninguém limpa essa porcaria de apartamento? Estou cansado. Sônia, cadê você para cuidar do seu filhinho bastardo agora? Parece que passaportes e salas de espera te arrastaram desse mundo. Pura ficção coletiva. Eu não consigo pensar nada com nada. Grite, Shamaya, GRITE! Mamãe sempre me falou que era sua belezinha, agora não pareço tão belo ilhado por garrafas quebradas, num apartamento borrado e numa vida fora de enquadramento. Não vou voltar para o trabalho, não quero que devorem minha confusão, que me façam esquecer do delírio. Estou bem assim. Melhor mastigando tendões do que comendo salgadinhos defumados, servidos por traças da última ceia escatológica. Agora que larguei tudo, acho melhor arrumar algo pra fazer por aqui. Otep já foi um bom começo, só preciso limpar minhas mãos. O sangue escorre. Não é fácil quebrar todas as peças de vidro de uma fina decoração. Sou um traidor babaca. Otário por enxergar todos os palmos que coloquei nas minhas fuças. Como de minha própria ferida plantada. E rego todos os dias ao abrir dos olhos. Sem precisar de ajuda, agora preciso falar. Mesmo que não seja o que faço, que vejo ou o que não meto pela goela abaixo de todos. Senhores e senhoras Daniels, preciso cuidar das coisas do lar. Destruindo o que ainda resta em santa arrogância.

“Com poesia e sofrimento
Canibalizei cada centímetro
Da minha dor”

Um comentário:

luiz gonzaga capaverde disse...

Rapaz, q texto, hein? " Não vou voltar para o trabalho, não quero que devorem minha confusão, que me façam esquecer do delírio. Estou bem assim." Estás chegando as vísceras das vísceras do texto e da alma, ou da alma do texto, sei lá. De qualquer modo, muito bom mesmo. Grande abraço.
Capaverde