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08 novembro 2010

Outono na Floresta

Como todo dia, levantou em cima da hora, tomou café rapidamente e pegou o ônibus (muito cheio) para ir ao trabalho. Chegou sorridente, cena que se repete há 15 anos: tapas amigáveis nas costas e seu bom humor inatingível. Trabalhava como arquivador no escritório de advocacia; Falava com todos e ainda havia quem não gostasse dele. Sempre fora um bom aluno, tanto na escola como na faculdade. Era o orgulho da família: ganhara até bolsas em vários países, mas nunca quis sair da cidade-natal. Não queria se afastar da família, que era seu apoio psicológico, principalmente nos finais de ano, quando havia muitos trabalhos, tanto na faculdade como no emprego. Nestes dias, mal tinha visto a família, pois o escritório estava crescendo e acumulando cada vez mais trabalho. Até seu sorriso tinha mudado: de longas piadas e gargalhadas, fez-se apenas um sorriso amarelo, quase forçado. E para piorar, a faculdade ainda o ocupava seu tempo restante. Como mal tinha tempo de alimentar-se bem, acabou passando mal e desmaiou. Estava muito abatido e a família bastante preocupada.

Passou vários meses assim. Apesar do outono, com o aroma doce das flores e dos ventos, ficou mais sério. Já não era mais simpático e não falava com os colegas do trabalho. Após dias começou a faltar no emprego e sua casa era seu mundo. Depois o quarto virou seu universo. Não falava nem com a família. Decidiram levá-lo ao médico. Forçaram-no a ir. “Seu filho está com uma grave disfunção no hipotálamo”. Depressão grave. “Mas ele era tão animado, sempre radiante de alegria...” Estresse. Piorou dia após dia, apesar do tratamento. Mal saía da cama nem para beber água. Os olhos vermelhos, taciturnos e a respiração ofegante.

Amanheceu e a esperança de que melhorasse vinha com o sol, mas a nuvem o cobria. Abriram a porta do quarto e o viu caído sobre o chão, inerte, com os comprimidos do tratamento em mãos. A cama estava desarrumada e as portas do armário onde os remédios eram guardados estavam abertas, o vento batia, fechando-a e abrindo-a, tocando uma melodia triste. Mesmo a floresta, sempre exuberante, cheia de folhas e alegrias, no outono perde-as... Algumas chegam até a morrer...

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