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10 janeiro 2011

Inquietude de uma noite nublada

começa com um vácuo - a coisa toda se condensa nos átrios mais cinzentos - e a vela não acende - tudo está escuro sem forma e vazio - como o gênesis de uma nova era - incolor cheia de dores - servindo patas de caranguejo à meia noite - quebrando todos os protocolos do sentido - perdido em divagações - do que poderia ser do que não foi e que provavelmente nunca será - repito meus atropelos em dígitos desconexos - talvez para aliviar toda a pressão - meus pulmões se sufocam - se apertam em fina repulsa ao isolamento - isso é o caos do que não se pode explicar nem rasgar nem fazer bolinhas nem jogar no lixo - posso simplesmente sentir meus pés congelando pelo piso que contacta - recebo as almas para dançar - não acredito nelas mas é o jeito se conformar - confortando-se na última valsa antes de voltar à estaca zero na incerteza do que me faz continuar pensando nas mesmas coisas - em como não consigo dizer refazer destruir montar - a última vértebra desse mundo sou eu - sustentando toda a pelanca podre - mas podre mesmo é o cálcio que me reforça e não reage - não consigo pensar em coisas melhores - não sei pensar em linha reta - nem explodir de forma convencional - queria aprender a arte do velho boom seguido de estrondosos pontos de exclamação enquanto todos se assustam - ao invés disso faço uma espécie de apito mudo incompreensível e todos seguem correndo nas suas pistas escorregadias - na noite das fadas, os camelos vem para se vingar virando o último copo d'água da face da terra - derramam mais do que bebem - ostentam e hidratam com sua baba - o cheiro de terra faz as narinas lembrarem do sangue que corre em suas cavidades - talvez seja hora de me entregar a última respiração consciente da noite delirante que rasga os peitos dos céus cinzentos nublados e revestidos com a áurea tentativa de ser santa - os infernos pintados de ouro nunca serão brilhosos - amém

4 comentários:

Anônimo disse...

Boa, garoto! Ao final do texto acho que a gente está tão aflito e desconexo quanto o narrador... é intrigante e instigante.

Marcos Robério disse...

Esse "anônimo" sou eu viu. hehe

Camila de Souza disse...

Adoro quando o cérebro solta a língua assim, sem censura.
Fez bem em deixá-lo livre. Assim a gente se liberta também.

Um abraço,
Camila

Anônimo disse...

"não sei pensar em linha reta"..nem eu, por isso só digo: Arrasou! ;*