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11 outubro 2008

A Cadeira

A cadeira ali estava, sozinha e orientada. Era imóvel e imutável. Seus movimentos não passavam de fluxos imaginários. Silenciosamente, no canto da parede, ela gritava para si mesma, como e ninguém pudesse ouvi-la, a não ser ela mesma. Já as paredes que a envolviam como um casulo – que esconde o turbilhão constante da metamorfose - eram envelhecidas pelo tempo e pelo vento. Estas paredes passavam por dentro da casa desconhecidas. Essas passavam por reformas e mudanças para que parecessem sempre firmes e fortes para protegerem a cadeira. A sua existência resumia-se em ali existir, em ser, em proteger. Eram simples paredes de concreto, efêmeras e destrutíveis. Eram complexas e pequenas partes juntas, para que, no final, fossem grandes armaduras da cadeira. O ar denso do quarto e sua solitária cadeira nunca haviam visto ou tocado nada, principalmente além da grande porta que as trancavam. Não viam porque não precisavam. Os seus universos eram apenas sua própria existência. No quarto escuro, o limite era apenas o saber de suas coexistências. Estavam intimamente ligadas, mesmo sem se tocarem. A cadeira não poderia ver porque as paredes impediam seu olhar além-parede. As paredes não viam porque o tempo não tinha passado para que a crisálida mostrasse sua essência, pois nesta ainda havia algo inacabado. Pensou a cadeira que nada existia porque não via. E nunca poderia ver: era uma cadeira, apenas. Uma cadeira isolada de todo seu ser. As paredes envelheciam, mas a cadeira continuava jovem. Um dia, essas já não sustentavam mais a si mesmas e desabaram inertes e mortas, como a pétala de uma tênue flor que é machucada pelo vento. Finalmente, pensou a cadeira. Finalmente pode ver tudo, mas nada via. Nem deveria mesmo. Com as paredes ela tudo era, mas sem estas, não passava do nada disperso no tudo.

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