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31 julho 2011

A noiva (por Juliana Weyne)

Salete, mulher de quarenta e poucos anos, celibatária e temente a Deus, numa bela manhã de domingo, ajudava nos preparativos finais para o casamento da sua sobrinha Dora que aconteceria naquele dia em algumas poucas horas.


Ao distrair-se um segundo, esbarrou acidentalmente em um majestoso arranjo de flores que foi ao chão deixando várias tulipas espalhadas pelo tapete vermelho no qual a noiva caminharia mais tarde com seus pés de pomba. Salete, acanhada, apressou-se em recolher as vítimas de seu descuido e arrumá-las o mais discretamente possível.


Com algumas tulipas em seus braços e ao seu redor, a boa Salete num estalo, como que em transe, levantou-se e saiu da igreja levando consigo algumas das flores caídas e colhendo as que encontrava nas ruas por onde passava.


Chegando numa praça e já carregada de flores de diversas cores, formas e tamanhos, Salete deparou-se com um grupo de turistas italianos que jogavam milho para os pombos que lá viviam. Ainda mergulhada em seu delírio, a pura Salete, ao ver aquele milho pipocando no ar tomou-os por grãos de arroz e deixou-se ser banhada por ele.


Os pombos da praça voaram para a estátua da noiva de milho e flores urbanas, e, depois deles, mais e mais pombos surgiam até que já não se podia distinguir parte alguma da pobre Salete.


Os pombos, por fim saciados, partiram, mas ali já não havia da noiva algum vestígio.

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