Social Icons

20 outubro 2008

O avião.

O vôo atrasara duas horas, o que já foi o suficiente para irritá-la. Ana odiava viajar a negócios, principalmente quando as linhas aéreas estavam congestionadas. Quando a chegada do avião foi anunciada pelo som, levantou-se impaciente e dirigiu-se ao portão indicado, entrando no avião e procurando seu assento. Acomodou-se aliviada, afundando-se na poltrona acolchoada que lhe cabia e feliz que sua espera havia chegado ao fim. Nos segundos seguintes outras pessoas entraram no avião e ocuparam as demais cadeiras. Cochilou por quase uma hora e, quando acordou, notou que a poltrona ao seu lado fora ocupada por um homem robusto que aparentava ter quarenta anos. Não se incomodou em cumprimentá-lo. Pouco tempo depois, a aeromoça passou pelo corredor central oferecendo bebidas e petiscos aos passageiros. Ana aceitou um sanduíche de peito de peru defumado e suco de cajá, e o homem ao seu lado pediu o mesmo. Depositou o recipiente no porta-copo da poltrona e concentrou-se no lanche. Depois de duas ou três mordidas, ficou com sede e solveu alguns goles do suco, colocando-o de novo na posição anterior. Notou, porém, que em seguida o homem pegou seu copo e bebeu dois goles, colocando-o de volta como se nada houvesse se sucedido. “Que audácia!”, pensou. Solveu mais do líquido amarelado e, para sua surpresa, o homem repetiu o ato. Já enfurecida pela falta de educação do sujeito, voltou-se para ele em tom de resmungo:
- Se o senhor tivesse a decência de pedir o meu suco, garanto que não o negaria.
- O seu suco está ali, senhora. – Disse, num tom extremamente calmo e dócil, apontando o porta-suco do lado direito de Ana.