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04 maio 2010

Delírio Emocional de 2° grau: Indignação, Abandono e Degradação

Parte IV – 200g de presunto e algo verde.

Uma noite fria e abafada era o que arfava pelas entidades noturnas do mercantil da esquina. Vagavam por algo para o jantar. Eu também. Uma hora tenho que sair daquele apartamento. O momento do dia onde todos se reúnem desvestidos de sua maquiagem e uniformes de play móbil na cidade grande. Passo pelas prateleiras e não consigo pensar no que possa levar para comer. Não sei por que perder tanto tempo escolhendo essas coisas, mesmo quando você tem tempo de sobra para perder e sua barriga não ronca apenas seu maldito cérebro consumista te pede para comprar alguma coisa para agradá-lo. Estava tudo bem enquanto ele estava em pane nesses dias. Agora voltou à atividade e pede por algo mais sucinto do que bolachas de alho. Uma menina com farda de colégio entra pelo corredor. Colégio público. Outras meninas da mesma idade estão na parte de chocolates e doces pensando em como podem zoar a que entrou enquanto ficam apreciando aquilo que decidiram não comer para não serem zoadas por similares. Um velho na sessão de frutas cospe uma uva azeda e seus caroços mastigados de volta à prateleira e acha que ninguém viu, mas eu vi. Está vestido com a blusa de alguma ONG ambiental. No caixa dois, uma velha e uma grávida discutem para decidir qual das duas tem preferência enquanto o cara na cadeira de rodas passa as suas compras apressadamente. A música ambiente é um lixo, preferível apenas o som dos carrinhos. Na noite gritante, os atos dos outros são oferecidos na prateleira do abuso. Peguei um saco de pão e fui pedir presunto no balcão. A fila era enorme, passei quase meia hora olhando para o retrato de funcionário do mês. Com certeza um cara mais legal do que eu. Mas aquele que passava as compras, não. Ele não merecia uma foto estampada nem por um dia. Chega minha vez, pego meus 200g de presunto, pago junto ao saco de pão e tomo o caminho para meu grande sítio dos horrores. Chegando à cozinha, corto alguns pães e quando olho para o presunto vejo que tinham manchas verdes. Não estou nem um pouco a fim de voltar lá. Tenho o número da farmácia na geladeira.

Um comentário:

luiz gonzaga capaverde disse...

Cara, adoro esses ambientais cheios de observações cotidianas,q remetem a gente pra vida da gente. Muito bom.