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16 janeiro 2010

Entre a Madrugada e a Loucura

Era tarde da madrugada. Tudo parecia distorcido e eu mal reconhecia as pessoas que estavam ao meu lado. Notei rostos preocupados, principalmente o de uma bela jovem de cabelos longos e dourados. Senti fortes dores de cabeça e notei meu corpo desabando no chão. Quando acordei, não estava no mesmo lugar, estava em um hospital. Todos me olhavam fixamente, como se eu fosse um louco. Perguntei a uma enfermeira porque eu estava ali. Ela continuou calada e jogou meus remédios e deu-me um copo com água. Finalmente um médico entrou no quarto. Estava com uma prancheta em mão e começou a fazer perguntas estranhas e ele falou rispidamente que eu tentei cometer suicídio. Este médico está louco... Vi apenas um rosto belo, mas muito chateado. Saí. O dia estava lindo. O vento, várias vezes viu, durante a madrugada, os suicidas entrarem em ação. Um ato feio e triste. Muito triste.


Levantou cedo e percebeu que todos os amigos afastaram-se. O seu quarto, cheio de madrugada, exibia as estantes, com as coleções completas de Pedro Salgueiro, Moreira Campos, Airton Monte, Rubem Fonseca e Augusto dos Anjos. Há tempos que não lia. Passou a mão levemente sobre os livros e olhou para uma pasta em que continha seus rascunhos. Estava tentando escrever um livro, mas não conseguia. Estava angustiado demais para continuar seus projetos. Suas desilusões caíam sobre sua alma, rasgando-a e machucando-a profundamente. A noite era absoluta quando se sentou na cama. Olhava para uma foto, onde ele estava abraçado com a mesma moça bela de olhos verdes e cabelos dourados. Com as mãos trêmulas pegou o retrato e o queimou. Sua alma era uma colméia: por mais calma que pareça, há um turbilhão interno. Sentiu vontade de morrer. Chegou perto da janela e olhou para a rua. Recuou. Sentiu apenas o cheiro do ar e viu as lindas estrelas. Caiu inconsciente. Acordou no hospital com o mesmo olhar recriminador da enfermeira. Mas não tinha consciência do que havia acontecido. O medico falou, rispidamente, a palavra suicídio.

Sentiu-se bem, desta vez. Achava-se apenas um pouco cansado. Não se lembrava do que tinha acontecido. A moça acenava para ele e o chamava. Curioso, acompanhou a moça durante horas, que apenas sorria. Ébrio, continuava a segui-la. Escurecera. Seu corpo, suado e dolorido, estancou e a jovem sorriu. Apenas sorria. Num breu a moça pulou em um pequeno abismo. Pulou. A pancada na cabeça o deixou desmaiado. Suicídio... O jovem acordou e viu um corpo no chão. Decidiu virá-lo, para ver se o reconhecia. Era madrugada. Gritou. Era o seu corpo. Uma delicada mão fria encostou-se ao seu ombro. Ainda tremulo, perguntou que era. Uma voz feminina e melodiosa respondeu: “Loucura”. A madrugada riu e a jovem de olhos verdes e cabelos dourados continuava a falar: “Loucura... Loucura... Loucura...”.

Respirou fundo. Fechou a pasta e ficou olhando a rua ser banhada pela chuva noturna. E assim vivia: entre a boca da madrugada e a loucura.

2 comentários:

Kamila Silva disse...

Síndrome dos dentes de Berenice...rs
Pode ser o dignóstico ;)

Karoline Ferreira disse...

caraca! Amei esse texto, Raissa vc é a CARA!